segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Recomendações quanto à amamentação na vigência de doença/infecção materna

Mais um dia me deparando com notícias de mães que desmamam seus filhos pela falta de informação adequada. Muitas são acometidas por doença/ infecções e pensam (ou são induzidas a pensarem) que não é mais possível manter o aleitamento materno. Um grande equívoco, pois raras são as razões para realmente ser indicada a interrupção da amamentação.
Quase todas as mães podem ser bem sucedidas na amamentação, o que inclui iniciar a amamentação dentro da primeira hora de vida, amamentar exclusivamente nos primeiros seis meses e continuar a amamentar (com alimentos complementares apropriados) até dois anos de idade ou mais.
Os efeitos positivos da amamentação na saúde das mães e crianças têm sido observados em toda parte. A amamentação reduz o risco de infecções agudas como diarréia, pneumonia, otite, Haemophilus influenzae, meningite e infecção urinária. Também protege contra doenças crônicas como diabete tipo I, colite ulcerativa e doença de Crohn. A amamentação está associada com menor pressão sanguínea média e colesterol total no soro, além de baixa prevalência de diabete tipo II, sobrepeso e obesidade na adolescência e vida adulta. A amamentação retarda a volta à fertilidade da mulher e reduz os riscos de hemorragia pós parto, câncer de mama, pré-menopausa e câncer de ovário. 
Muitas mães ao serem acometidas por algum tipo de doença acabam desmamando seus filhos pela falta de informação adequada, pensando ou sendo levadas a pensar que na presença de tais enfermidades não se pode mais amamentar. Pois bem, a boa notícia é que são raras as razões que necessariamente levam ao desmame. 
Não há indicação de suspender a amamentação, por exemplo, mesmo que temporariamente, nas mães com infecção urinária, infecção bacteriana de parede abdominal, episiorrafia, mastite ou outra em que as condições física e o estado geral da nutriz não estejam muito comprometidos.
Segue algumas considerações sobre o manejo em relação à amamentação na presença de doenças maternas comuns causadas por bactérias, vírus, parasitas e fungos (Tabela 1):






  • Condições maternas durante as quais amamentar não é contra-indicado, embora elas representem problemas de saúde que causam preocupação:


  • - Hepatites A, B e C: Com relação à Hepatite A, quando o parto ocorre na fase aguda da doença, a criança deve receber imunoglobulina anti-HVA na dose de 0,02 ml/Kg como profilaxia. Já quanto a Hepatite B, vacina e administração de imunoglobulina específica após o nascimento, praticamente eliminam qualquer risco teórico de transmissão da doença via leite materno. Quanto à Hepatite C, não foi comprovada a transmissão pelo aleitamento materno, mesmo assim, a prevenção de fissuras mamilares em lactantes HCV positivas é importante. Em nenhum dos casos se contra-indica a amamentação.

    - Citomegalia: Infecções sintomáticas ou sequelas tardias não têm sido observadas nos bebês, provavelmente pela passagem de anticorpos maternos específicos que os protegem contra a doença sistêmica.

    - Varicela: Mãe com varicela cujo início da doença foi há mais de 5 dias antes do parto ou após o 3° dia pós parto, pode produzir e transferir anticorpos para o bebê tanto por via transplacentária quanto pelo leite materno. A mãe pode amamentar a criança tomando os cuidados especiais de lavagem das mãos, uso de máscara e oclusão das lesões.

    - Herpes simples: o risco de transmissão do vírus pelo leite materno é muito baixo. O aleitamento materno deve ser mantido, exceto quando as vesículas herpéticas estiverem localizadas na mama. O contato direto entre as lesões mamárias da mãe e a boca do bebê deve ser evitado até que as lesões estejam curadas;

    - Caxumba: A amamentação deverá continuar e as IgAs do leite humano podem ajudar a minimizar os sintomas da criança;

    - Tuberculose: Recomenda-se que a mãe amamente com o uso de máscaras e restrinja o contato próximo com a criança por causa da transmissão potencial por meio das gotículas do trato respiratório. Além da administração de isoniazida ao recém-nascido pelo período de 3 meses bem como realizar os testes específicos;

    - Rubéola: Não há casos em que contra-indiquem o aleitamento materno em nutrizes com a doença;

    - Hanseníase: Não há contra-indicação para a amamentação se a mãe estiver sob tratamento adequado. Considera-se que a primeira dose de Rifanpicina é suficiente para que a mãe não seja mais bacilífera.

    - Dengue: Além da doença só ser transmitida através da picada do mosquito, há no leite materno um fator antidengue que protege a criança;

    - Abcesso mamário: a amamentação deve ser mantida na mama não afetada; quanto à mama afetada, deve-se retornar somente após a drenagem do abscesso e início do tratamento antibiótico.

    - Mastite:  se a amamentação for muito dolorosa, o leite deve ser removido por ordenha para 
    prevenir a continuidade da mastite. A amamentação auxilia no tratamento da mastite.


    - Sífilis: Não há evidências de transmissão pelo leite humano, sem lesões da mama. Caso haja lesões, tratá-las e com 24 horas após o tratamento com penicilina, o agente infeccioso raramente é identificado nas lesões;

    • Condições maternas que podem justificar parar de amamentar de forma permanente ou temporária:

    -  Mães infectadas pelo HIV;
    -  Mães infectadas pelo HTLV1 e HTLV2;
    - Uso de medicamentos incompatíveis com a amamentação, como por exemplo, os antineoplásicos e os radiofármacos;
    - Consumo de drogas de abuso: a mãe deve ser incentivada a não usar tais substâncias e ter oportunidades e apoio para abstinência

    Recomendação quanto ao tempo de interrupção do aleitamento materno após o consumo de drogas de abuso:
    Droga                                 Período recomendado de interrupção
                                                              da amamentação

    Anfetamina, ecstasy                                  24–36 horas
    Barbitúricos                                               48 horas
    Cocaína, crack                                          24 horas
    Etanol                                     1 hora por dose ou até estar sóbria
    Heroína, morfina                                        24 horas
    LSD                                                          48 horas
    Maconha                                                   24 horas
    Fenciclidina                                            1–2 semanas


    REFERÊNCIAS: Razões médicas aceitáveis para uso de substitutos do leite materno, Atualização OMS (2009) disponível em: http://whqlibdoc.who.int/hq/2009/WHO_FCH_CAH_09.01_por.pdf
    Saúde da Criança: Nutrição infantil, Caderno de Atenção Básica n° 23, disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_crianca_nutricao_aleitamento_alimentacao.pdf
    Recomendações quanto à amamentação na vigência de infecção materna, Joel A. Lamounier, Zeina S. Moulin, César C. Xavier, disponível em: http://www.scielo.br/pdf/jped/v80n5s0/v80n5s0a10.pdf


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