terça-feira, 13 de junho de 2017

Quem é a Doula e o que ela faz?


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Muitas pessoas não têm a mínima noção do que eu faço e da importância desse trabalho para um nascimento bem assistido. Por conta disso, resolvi escrever sobre o papel da doula e o trabalho que venho desempenhando.
A palavra doula vem do grego e significa "mulher que serve". A doula "serve" àquela nova mãe com informações baseadas em evidências, suporte físico e emocional, apoio na gestação, parto e pós parto. É a pessoa que tem treinamento para acompanhar partos/nascimentos de forma profissional.
Partindo do início, antigamente, o nascimento de uma criança era marcado pela presença de mulheres experientes do convívio da mulher. 
A partir do momento em que o parto/nascimento passou para o ambiente hospitalar, a mulher vem começou a ser cada vez mais fragilizada e desencorajada do seu  feminino e de sua capacidade de parir, amamentar e se conectar com seu bebê. No ambiente hospitalar, há toda uma preocupação em seguir um protocolo, sem se preocupar com a particularidade de cada binômio mãe-bebê, agilizando o processo, medicamentosamente, sem respeitar o tempo de cada um, o que leva a uma série de violência obstétrica.
A doula vem ocupando o lugar dessas mulheres experientes do passado, sempre ao lado da mulher grávida ou parida, disponível 24h do dia, de domingo a domingo, fortalecendo sua conexão com seu feminino e com seu bebê,  além de assegurá-la da sua capacidade de mamífera. Então para falar do trabalho de uma doula, vamos por partes:



Suporte informativo
O Brasil, atualmente, é conhecido como o país das cesáreas e infelizmente, para se ter um parto normal e respeitoso aqui, não basta querer. Pesquisas mostram que 90% das mulheres quando engravidam desejam um parto normal e esse número vai diminuindo à medida que se caminha com o pré-natal, ou seja, várias atitudes dos profissionais de atendimento à gestação, vão minando a confiança da mulher fazendo com que ela acredite que realmente é melhor para ela e bebê, uma cirurgia de grande porte.
A doula tem o papel de informar à gestante sobre as evidências científicas e as reais necessidades de uma cirurgia. Além de mostrar sobre os prós e contras de cada via de nascimento e procedimentos rotineiros dos hospitais. Vários desses procedimentos são ultrapassados e desnecessários, além de não serem recomendados pelo Ministério da Saúde e pela OMS (Organização Mundial de Saúde), mas continuam fazendo parte do protocolo hospitalar ou do médico.
Assim, a doula busca munir a gestante de informações, trabalhando para o seu empoderamento sobre ser a verdadeira protagonista desse momento, a fim de que ela aprenda a questionar sempre que necessário, sem receio.
Além de informar sobre procedimentos na gestação, parto e pós parto, a doula também busca informar sobre os cuidados com o bebê, auxiliando no aleitamento materno e o melhorando o vínculo entre mãe e bebê, valorizando a importância da tríade, com o pai ou outro cuidador que será responsável juntamente com a mãe.
A doula também atua como suporte à informação atualizada entre mãe (ou casal, se tiver um companheiro), família e a equipe médica, quando assim desejar a mulher, fazendo os contatos necessários na sua busca por informações.

Suporte emocional
O suporte emocional vai desde o início da gestação, ou até mesmo quando a mulher planeja engravidar e já quer ir se preparando com uma doula, e no pós parto auxiliando com o aleitamento materno e emoções do puerpério.
Através de sua presença contínua ao lado da parturiente, a doula promove a tranquilidade, a segurança, com carinho, palavras de conforto e reafirmação. Faz-se todo um trabalho de reflexão em cima das crenças limitantes de cada mulher, encorajando-a e aumentando a conexão entre mãe e bebê.
Esse suporte emocional também pode ser feito juntamente com o (a) companheiro (a) ou a pessoa mais próxima da gestante quando se faz necessário.
Enquanto os outros profissionais focam na técnica, a doula tem um olhar atento ao interior daquela mulher mãe, percebendo seus desafios, enxergando nas entrelinhas e colaborando para que ela não se sinta desamparada.
Mesmo quando o parto acaba em uma cesariana, a presença da doula é de suma importância. A doula passa segurança e acolhimento para a mulher colaborando para que mesmo que não tenha sido à vontade da mulher, a experiência continue sendo positiva.

Suporte físico
Durante o trabalho de parto, a doula promove conforto físico e emocional com técnicas de respiração e massagens, além de auxiliar com alguns exercícios. Alguns exercícios são recomendados também durante a gestação e/ou até no pós parto. São utilizadas técnicas de alívio de dor de forma natural, colaborando para que a mulher suporte bem o trabalho de parto.

O que a doula não faz?

  • A doula não realiza procedimentos clínicos. Para isso, tem-se a equipe médica. Assim, mune a mulher e a família de informações de qualidade e apoio contínuo para que ela seja capaz de decidir sobre cada momento, de forma consciente.
  • A doula jamais decide pela mulher, mas sempre ampara e apoia a decisão que ela tomar, partindo do princípio de que ela já está bem informada sobre prós e contras de cada decisão.
  • A doula não discute com a equipe médica. Busca deixar a mulher ciente sobre seu protagonismo para que ela questione e se queixe quando achar necessário.
  • A doula não utiliza  crenças pessoais suas, mas sim informações que são baseadas em evidências científicas.
Benefícios de se ter uma doula
A presença de uma doula traz inúmeros benefícios e alguns mais relatados vieram à tona num estudo global de Klauss e Kennel.

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Foto: livre maternagem

Outros estudos também apontaram os benefícios da doula antes, durante e depois do parto, entre eles:
  • Aumento do sucesso na amamentação
  • Interação satisfatória entre mãe e bebê
  • Satisfação com a experiência do parto
  • Redução da incidência de depressão pós parto
  • Diminuição nos estados de ansiedade e baixa auto-estima
Outros estudos recentes, analisaram mais de 15.000 mulheres em diferentes lugares do mundo, reafirmando a presença da doula como um dos fatores que mais colaboram na melhoria dos resultados do parto.

Embora muitos profissionais de saúde ainda tenham preconceito com relação à presença da doula, A OMS e o Ministério da Saúde incentivam o acompanhamento por uma doula no trabalho de parto e alguns Estados já possuem legislação específica garantindo o direito da mulher ter sua doula no local do parto, como aqui no Distrito Federal, lei nº5534/2015.

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Em resumo, a doula vem para auxiliar no resgate do protagonismo feminino, buscando proporcionar um parto mais humanizado para mãe e bebê.

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Foto: Síntese Dourada







sexta-feira, 2 de junho de 2017

Conselhos para uma mulher forte


Se eu pudesse das um conselho às mulheres seria: "Unam-se umas às outras, se fortaleçam, se amparem, se ajudem. Formem, tenham, façam parte de uma rede de apoio feminina. Vcs não têm noção do poder que emanam juntas e do quanto essa rede é capaz de curar, ajudar, amparar. Conectem-se com seu feminino e apenas unam-se. Na verdadeira união entenderão o motivo."


CONSELHOS PARA A MULHER FORTE
(Gioconda Belli, Nicarágua, 1948)

Se és uma mulher forte
te protejas das hordas que desejarão
almoçar teu coração.
Elas usam todos os disfarces dos carnavais da terra:
se vestem como culpas, como oportunidades, como preços que se precisa pagar.
Te cutucam a alma; metem o aço de seus olhares ou de seus prantos
até o mais profundo do magma de tua essência
não para alumbrar-se com teu fogo
senão para apagar a paixão
a erudição de tuas fantasias.

Se és uma mulher forte
tens que saber que o ar que te nutre
carrega também parasitas, varejeiras,
miúdos insetos que buscarão se alojar em teu sangue
e se nutrir do quanto é sólido e grande em ti.

Não percas a compaixão, mas teme tudo que te conduz
a negar-te a palavra, a esconder quem és,
tudo que te obrigue a abrandar-se
e te prometa um reino terrestre em troca
de um sorriso complacente.

Se és uma mulher forte
prepara-te para a batalha:
aprende a estar sozinha
a dormir na mais absoluta escuridão sem medo
que ninguém te lance cordas quando rugir a tormenta
a nadar contra a corrente.

Treine-se nos ofícios da reflexão e do intelecto.
Lê, faz o amor a ti mesma, constrói teu castelo
o rodeia de fossos profundos
mas lhe faça amplas portas e janelas.

É fundamental que cultives enormes amizades
que os que te rodeiam e queiram saibam o que és
que te faças um círculo de fogueiras e acendas no centro de tua habitação
uma estufa sempre ardente de onde se mantenha o fervor de teus sonhos.

Se és uma mulher forte
se proteja com palavras e árvores
e invoca a memória de mulheres antigas.

Saberás que és um campo magnético
até onde viajarão uivando os pregos enferrujados
e o óxido mortal de todos os naufrágios.
Ampara, mas te ampara primeiro.
Guarda as distâncias.
Te constrói. Te cuida.
Entesoura teu poder.
O defenda.
O faça por você.
Te peço em nome de todas nós.

terça-feira, 7 de março de 2017

Por que o meu bebê chora?

Ao se falar no choro do bebê, devemos pensar primeiramente, no binômio mãe-bebê. Por cerca de 9 meses, mãe e bebê foram um só e mesmo após o nascimento, o bebê ainda não tem essa percepção de que ele e a mãe são pessoas diferentes. Essa percepção ocorre por volta dos 8 meses de idade.
Partindo desse princípio, é essencial que mãe e bebê não sejam separados após o nascimento, mas sim, que seja incentivado o contato pele a pele a partir daí e a amamentação na primeira hora de vida.
Diferente de outros mamíferos, o bebê humano precisa completar grande parte do seu desenvolvimento fora do útero materno. Segundo Sigmund Freud, o bebê humano chega ao mundo "inacabado".
Os primeiros anos de vida, são os anos de aprendizagem, de descobertas, inclusive da descoberta de como é ser um humano. Dentro desses primeiros anos, os primeiros 3 meses são os mais intensos. Faz-se necessário que mãe e bebê aprendam um a linguagem do outro e para isso, a não interferência de terceiros vale ouro e respeitar a intimidade dos dois é primordial. Nessa fase, mãe e bebê estão em outro mundo e a ajuda que a mãe precisa é no serviço doméstico e com os outros filhos, enquanto que com o bebê em si, seria mais ajuda com banho, troca de fraldas, essas coisas, com o consentimento da mãe, é claro.
Quanto menor a criança, mais telepática ela é. Ela capta não só o que acontece à sua volta, mas também em nível de energia, principalmente da mãe. É um ser extremamente sensível e vulnerável.
Ao nascer um bebê, é comum que várias pessoas comecem a visitar aquela pessoa e o novo ser. Ou até mesmo, alguém se muda para aquela casa com a intenção de ajudar a nova mãe. Em muitos casos, o que acontece é o contrário, pois as pessoas tentam nos empurrar sua forma de criar, de fazer, interferindo assim, na intimidade desse binômio e gerando uma tensão. É extremamente importante que a mãe receba cuidados e ajuda nos afazeres da casa para que ELA se conecte ao bebê. Magoar a mãe, desqualificá-la, estressá-la, pode virar cólicas na criança e até mesmo um resfriado.
Segundo Eleanor Luzes, médica psiquiatra e analista junguiana, "Quando uma criança chora, quem precisa ser acolhida é a mãe, algo nela não está sendo cuidado... A criança chora pela mãe". No final do texto tem um vídeo, que recomendo fortemente não só para as mães, mas para os que vivem em volta da criança e da mãe.
Além dessa imaturidade no psicológico, digamos assim, há também a imaturidade fisiológica. O intestino do bebê, por exemplo, termina de ser formado por completo somente por volta dos 3 meses. Há que se ter essa compreensão para que saibamos esperar com cuidado esse desenvolvimento, o mais natural possível. 
Em último caso, é comum que o bebê tenha alguma intolerância ou alergia a algum alimento que a mãe esteja consumindo. Mas essa hipótese, deve ser avaliada somente se o bebê, mesmo com toda a conexão com a mãe, pele a pele, aconchego, ofurô, ainda apresenta um choro insistente e prolongado por dias. A alergia em si, costuma vir junto com outros sintomas. Sendo assim, não é preciso sair cortando os alimentos da mãe, sem realmente ter uma suspeita.
O bebê chora então, por diversos fatores como frio, calor, cólicas, uma etiqueta na roupa, fome, sono, cansaço, estresse e até por se sentir inseguro ou em perigo. A amídala na parte inferior do cérebro, que funciona como um detector de provável perigo funciona perfeitamente logo após o nascimento. Sendo assim, qualquer sinal diferente daquele em que ele estava acostumado dentro do útero fará com que ele fique em alerta. Ele não tem como saber, por exemplo, que o barulho de um liquidificador, de tunts tunts de som alto, não é um predador prestes a devorá-lo.
No início, com a adaptação tanto da mãe quanto do bebê ainda é difícil identificar o motivo do choro, mas com o tempo, e mantendo essa conexão, a mãe aprende a identificar os tipos de choro, assim como o bebê aprende a identificar os atos da mãe, ambos aprendendo a linguagem um do outro.
O choro costuma ter um pico por volta de 3 e 6 semanas do bebê e diminui por volta de 12 a 16 semanas. Há algumas fases em que os bebês os bebês costumam ficar mais chorosos e/ou agoniados, demandando mais atenção, mais mamadas, que são os chamados "picos de crescimento" e "saltos de desenvolvimento". Os picos de crescimento são as fases de crescimento do bebê e os saltos de desenvolvimento é quando o bebê aprende algo novo. Logo após um salto, é possível notar que o bebê aprendeu pequenas coisas como segurar objetos, bater palmas, sentar, engatinhar... Nos quadros abaixo mostra, em média, quando essas fases costumam surgir.



Crise dos 3 meses

Por volta dos 3 meses, às vezes antes, é normal que o bebê adquira mais prática na amamentação, sendo capaz de mamar tudo o que precisa em cerca de 5 minutos ou menos. A mãe, que era acostumada a ficar com seu bebê por horas no peito, se assusta, achando que o filho não está mamando o suficiente. Dessa forma, insiste para que ele mame mais, ele rejeita, ela insiste e nesse jogo de vai e vem mãe e bebê se estressam e mais uma vez gera uma tensão. O que ocorre na chamada crise dos 3 meses?

1. O bebê que antes mamava em dez minutos ou mais, agora acaba em cinco ou menos;


2. O peito, que antes estava inchado agora está mole;


3. O leite que pingava, já não pinga.


4. O aumento de peso está cada vez mais lento.

São acontecimentos normais e esperados, mas que a mãe não foi informada e começa a ficar insegura. Além desses fatores, entre 2 e 3 meses, o bebê passa, ao mesmo tempo, por um pico de crescimento e um salto de desenvolvimento.
É nessa fase, também, que a produção de leite da mãe costuma ajustar-se de acordo com a demanda do bebê. O seio vai enchendo cada vez menos, afinal, peito não é estoque, é fábrica. Como assim? 80% da produção do leite, se dá enquanto o bebê está sugando. O leite que vaza, é excesso e incomoda. Assim, nossa natureza entende que não é preciso produzir em excesso mas sim, na quantidade que o bebê precisa. Quando a mãe não está ciente disso, acaba gerando mais estresse pois foi ensinada pela crença popular de que você só tem leite se estiver vazando.
O bebê começa a ficar mais ativo, gastando mais energia e ganhando cada vez menos peso. É nessa fase que costuma ocorrer grande parte dos desmames precoces. Geralmente pela falta de confiança da mãe e apoio. Seja por acreditar que a criança continua com fome, seja por achar que ele chora porque o leite não sustenta mais, seja por achar que ele não engorda porque o leite está fraco. Lembre-se: são eventos normais e esperados. Afinal, imagina como seria se o bebê continuasse ganhando a mesma quantidade de peso? Chegaria aos dois anos, ou até menos, obeso. Mantenha-se firme, paciente e segura da sua capacidade de amamentar. Acolha seu bebê e mantenha a conexão e o contato pele a pele para que essa fase passe da melhor forma possível.


Angústia da Separação ou crise dos 8 meses

A angústia da separação é a percepção do bebê de que ele e a mãe não são mais um só. Até então, ele acreditava que ambos eram um só corpo e inseparáveis. Assim, o bebê começa a se desesperar ao não ver sua mãe por perto. Essa angústia começa entre 6 e 8 meses e se estende até por volta dos 5 anos da criança, manifestando-se de uma forma ou outra, dependendo de como é conduzida. A separação aflige a criança tanto quanto a dor física. Se você não está com ele, não tem como ele saber que não foi embora para sempre e ele pode sentir pânico e aumentar significamente o nível de substâncias estressantes no cérebro da criança. Leia mais sobre a crise da separação em http://grupovirtualdeamamentacao.blogspot.com.br/2015/01/angustia-da-separacao-crise-dos-8-meses.html

Conforme já foi falado, há vários fatores para o choro do bebê, tanto fisiológicos quanto psicológicos. E para todos eles, a melhor forma de acolhê-lo é mantendo a conexão mãe e bebê. E finalizo com o vídeo da dra. Eleanor, conforme falado acima. 






domingo, 5 de fevereiro de 2017

Alergia à proteína do leite de vaca x Intolerância à lactose x Galactossemia


Primeiramente, repitam comigo: NÃO EXISTE ALERGIA À LACTOSE, NÃO EXISTE ALERGIA À LACTOSE, NÃO EXISTE ALERGIA À LACTOSE. Agora voltemos à programação normal.

Por que repetir a frase acima? Porque é uma das principais dúvidas e dos principais problemas que acabamos enfrentando como pais de alérgicos. Ao se falar que a criança é alérgica a leite, a primeira coisa que as pessoas lembram é da lactose. Já passei por várias situações chatas em que os familiares ou amigos fazem ou compram algo sem lactose achando que seus filhos poderão comer e já escutei, inclusive de médicos, que era só tirar a lactose dos alimentos. 
A lactose, nada mais é do que o açúcar presente no leite e não causa alergia, mas sim uma intolerância em que a gravidade depende do organismo de cada pessoa. É causada pela diminuição ou ausência da lactase: enzima responsável pela digestão da lactose. Na intolerância, é possível que a pessoa ainda tolere pequenas quantidades, na alergia não. Na alergia não existe “só um pouquinho”. Um pedacinho ou o inteiro causa a mesma reação. Vamos falar um pouco sobre cada uma:


Alergia à proteína do leite de vaca
A alergia ao leite de vaca, também conhecida como APLV, é causada pela intolerância às PROTEÍNAS do leite. Ou seja, a alergia é das proteínas e não do açúcar, da lactose. A alergia é uma reação anormal do sistema imunológico às proteínas dos alimentos. Quanto ao leite de vaca, suas principais proteínas são: caseína, alfa-lactoalbumina e beta lactoglobulina. Aí vai um alerta na hora de ler os rótulos pois nem sempre o leite vem escrito conforme conhecemos mas sim com o nome das proteínas.
A alergia à proteína do leite de vaca é mais comum em bebês, pela imaturidade do sistema digestivo e bem rara em adultos. Alguns raríssimos casos chegam à vida adulta, geralmente quando não se fez a dieta restritiva adequada na infância. Pode ter alguns ou vários sintomas que variam de problemas de pele, respiratórios, intestinais, como: inchaço e/ou irritação nos lábios e olhos, urticária, dermatite atópica, coriza, vômitos e diarreias, cólicas intensas, fezes com sangue ou muco, assaduras persistentes, intestino preso, corte ou dermatite atrás da orelha (esse é um clássico), tosse, chiado no peito e dificuldade para respirar, irritabilidade, dificuldade em ganhar peso, anafilaxia e até um choque anafilático quando em sua forma mais grave. Podem ocorrer em minutos, horas ou dias após a ingestão de leite de vaca ou derivados, de forma persistente ou repetitiva.
O bebê amamentado pode apresentar alergia a algum alimento que sua mãe tenha consumido. Os mais comuns são: leite de vaca, ovo, soja, oleaginosas, peixes e frutos do mar em geral. Nesse caso, não basta apenas cortar o alimento da alimentação do bebê, mas também da mãe.
Não se deve atribuir qualquer problema do bebê à alergia. Para que se confirme uma provável alergia, é recomendado que retire o alimento tanto da alimentação da mãe (em caso de bebê amamentado) quanto do bebê por pelo menos 15 dias e observar se há melhora. Mais na frente veremos sobre como proceder com esses testes.
A boa notícia é que com uma dieta restritiva adequada, a APLV tem cura. Por volta dos 3 anos da criança, o sistema imunológico já está mais forte e é nessa fase que costuma-se ter relatos de cura. Algumas crianças se curam mais cedo, outras um pouquinho mais tarde, depende do organismo de cada uma, da dieta e da gravidade da alergia.


Intolerância à lactose
A intolerância à lactose é causada pela incapacidade de digerir a lactose, o açúcar do leite, devido à falta ou diminuição da lactase, enzima responsável por essa digestão. É mais comum do que a alergia e mais frequente em crianças maiores, já desmamadas, e adultos. Enquanto a alergia tem cura, após dieta restritiva e melhora do sistema imunológico da criança, por volta dos 3 anos, a intolerância à lactose não; e é extremamente comum. Raros somos nós, adultos, que podemos tomar leite, tranquilos, sem sentir nenhum tipo de desconforto.
Enquanto que a alergia tem sintomas variados, os sintomas da intolerância à lactose são intestinais, como cólicas, gases, diarreia, distenção abdominal, etc. Esses sintomas podem ocorrer em minutos ou horas após a ingestão do leite de vaca.
A lactose do leite materno não tem nada a ver com o leite de vaca, assim como não tem nada a ver com o fato da mãe tomar ou não leite. A lactose do leite de vaca não se absorve, para que se passe pelo leite materno. Ela é consumida, digerida e destruída. Ainda que a mãe tome litros de leite de vaca, em seu sangue, não há uma única molécula de lactose. E esse é o problema da lactose, ou se tem a lactase necessária para que essas moléculas sejam destruídas, ou não se tem e aí vem a intolerância, que causa problemas gástricos e intestinais, mas jamais se absorve e muito menos passa para o leite materno. Ela fica ali, em excesso no organismo, causando desconforto e os devidos problemas.
A lactose do leite materno é produzida no próprio seio e é produzida independente da mãe tomar ou não leite de vaca. Ou seja, é algo produzido pelo corpo humano e próprio para o bebê humano. É muito comum vermos médicos, enfermeiras e afins contraindicando o aleitamento materno alegando que a mãe passa lactose para o bebê causando alergia. CUIDADO! Muito se confunde alergia com intolerância e lactose do leite materno com lactose do leite de vaca. Em nenhum caso, mesmo de alergia alimentar, se contraindica a amamentação. Pelo contrário, além da lactose do leite materno ser benéfica para o bebê, o leite materno possui propriedades restauradoras que auxiliam na cura da alergia alimentar, melhora do sistema imunológico e cicatrização do intestino, que acaba ficando bem debilitado.
Existe uma raríssima intolerância primária à lactose, que é diferente da intolerância secundária, em que não se contraindica o leite materno. É a galactossemia.



Galactossemia
A galactossemia é uma grave enfermidade congênita que afeta 1 em cada 50.000 recém-nascidos. Não tem nada a ver com a intolerância secundária, que é comum e não contraindica a amamentação. Só falarei sobre a galactossemia para que não se confunda, pois é uma enfermidade raríssima e grave em que faz-se necessário a eliminação total de galactose e consequentemente lactose da dieta do bebê. 
O bebê com galactossemia não pode consumir galactose/lactose de origem animal, nem mesmo o leite materno. É um dos raros casos em que se contraindica a amamentação. A eliminação total da galactose/lactose deve ser mantida até pelo menos os 3 anos da criança e a partir daí, algumas toleram algumas pequenas quantidades.
É importante adotar a dieta adequada o mais rápido possível pois a galactossemia pode causar catarata, icterícia, retardo mental, cirrose, baixo ganho de peso, vômitos, hipoglicemia, entre outros. A boa notícia é que é possível saber sobre a doença assim que o bebê nasce pois é detectada no teste do pezinho. Ela não é adquirida, se deu negativo, a criança não tem.
Espero que tenha ficado claro a diferença dos três principais tipos de “intolerância”. Não se deixem confundir, pois como já foi falado, apenas a galactossemia é contraindicação para o leite materno e ela é detectada no teste do pezinho. E relembrando: não existe alergia à lactose!




Referências bibliográficas:

Tormo, R. Alergia e intolerância a la proteína de la leche de vaca (Protocolo de la Asociación Española de Pediatria).www.aeped.es/protocolos/gastroentero/1.pdfPumberger W, Pomberger G, Geisser W, Proctocolitis in breast fed infants: a contribution to differential diagnosis of haematochezia in early childhood. Postgrad Med J 2001; 77: 252-4http://pmj.bmjjournals.com/cgi/content/full/77/906/252Clyne PS, Kulczycki A. Human breast milk contains bovine IgG. Relationship to infant colic? Pediatrics 1991;87;439-444Iacono G, Cavataio F, Montalto G, Florena A, Tumminello M, Soresi M et al. Intolerance of cow´s milk and chronic constipation in children. N Engl J Med 1998;339: 1100-4 (Tradução de Fernanda Mainier)



Un regalo para toda la vida – Guia de lactancia materna, do Dr. Carlos González


http://www.alergiaaoleitedevaca.com.br