terça-feira, 13 de junho de 2017

Quem é a Doula e o que ela faz?


Resultado de imagem para parto antigamente 
Muitas pessoas não têm a mínima noção do que eu faço e da importância desse trabalho para um nascimento bem assistido. Por conta disso, resolvi escrever sobre o papel da doula e o trabalho que venho desempenhando.
A palavra doula vem do grego e significa "mulher que serve". A doula "serve" àquela nova mãe com informações baseadas em evidências, suporte físico e emocional, apoio na gestação, parto e pós parto. É a pessoa que tem treinamento para acompanhar partos/nascimentos de forma profissional.
Partindo do início, antigamente, o nascimento de uma criança era marcado pela presença de mulheres experientes do convívio da mulher. 
A partir do momento em que o parto/nascimento passou para o ambiente hospitalar, a mulher vem começou a ser cada vez mais fragilizada e desencorajada do seu  feminino e de sua capacidade de parir, amamentar e se conectar com seu bebê. No ambiente hospitalar, há toda uma preocupação em seguir um protocolo, sem se preocupar com a particularidade de cada binômio mãe-bebê, agilizando o processo, medicamentosamente, sem respeitar o tempo de cada um, o que leva a uma série de violência obstétrica.
A doula vem ocupando o lugar dessas mulheres experientes do passado, sempre ao lado da mulher grávida ou parida, disponível 24h do dia, de domingo a domingo, fortalecendo sua conexão com seu feminino e com seu bebê,  além de assegurá-la da sua capacidade de mamífera. Então para falar do trabalho de uma doula, vamos por partes:



Suporte informativo
O Brasil, atualmente, é conhecido como o país das cesáreas e infelizmente, para se ter um parto normal e respeitoso aqui, não basta querer. Pesquisas mostram que 90% das mulheres quando engravidam desejam um parto normal e esse número vai diminuindo à medida que se caminha com o pré-natal, ou seja, várias atitudes dos profissionais de atendimento à gestação, vão minando a confiança da mulher fazendo com que ela acredite que realmente é melhor para ela e bebê, uma cirurgia de grande porte.
A doula tem o papel de informar à gestante sobre as evidências científicas e as reais necessidades de uma cirurgia. Além de mostrar sobre os prós e contras de cada via de nascimento e procedimentos rotineiros dos hospitais. Vários desses procedimentos são ultrapassados e desnecessários, além de não serem recomendados pelo Ministério da Saúde e pela OMS (Organização Mundial de Saúde), mas continuam fazendo parte do protocolo hospitalar ou do médico.
Assim, a doula busca munir a gestante de informações, trabalhando para o seu empoderamento sobre ser a verdadeira protagonista desse momento, a fim de que ela aprenda a questionar sempre que necessário, sem receio.
Além de informar sobre procedimentos na gestação, parto e pós parto, a doula também busca informar sobre os cuidados com o bebê, auxiliando no aleitamento materno e o melhorando o vínculo entre mãe e bebê, valorizando a importância da tríade, com o pai ou outro cuidador que será responsável juntamente com a mãe.
A doula também atua como suporte à informação atualizada entre mãe (ou casal, se tiver um companheiro), família e a equipe médica, quando assim desejar a mulher, fazendo os contatos necessários na sua busca por informações.

Suporte emocional
O suporte emocional vai desde o início da gestação, ou até mesmo quando a mulher planeja engravidar e já quer ir se preparando com uma doula, e no pós parto auxiliando com o aleitamento materno e emoções do puerpério.
Através de sua presença contínua ao lado da parturiente, a doula promove a tranquilidade, a segurança, com carinho, palavras de conforto e reafirmação. Faz-se todo um trabalho de reflexão em cima das crenças limitantes de cada mulher, encorajando-a e aumentando a conexão entre mãe e bebê.
Esse suporte emocional também pode ser feito juntamente com o (a) companheiro (a) ou a pessoa mais próxima da gestante quando se faz necessário.
Enquanto os outros profissionais focam na técnica, a doula tem um olhar atento ao interior daquela mulher mãe, percebendo seus desafios, enxergando nas entrelinhas e colaborando para que ela não se sinta desamparada.
Mesmo quando o parto acaba em uma cesariana, a presença da doula é de suma importância. A doula passa segurança e acolhimento para a mulher colaborando para que mesmo que não tenha sido à vontade da mulher, a experiência continue sendo positiva.

Suporte físico
Durante o trabalho de parto, a doula promove conforto físico e emocional com técnicas de respiração e massagens, além de auxiliar com alguns exercícios. Alguns exercícios são recomendados também durante a gestação e/ou até no pós parto. São utilizadas técnicas de alívio de dor de forma natural, colaborando para que a mulher suporte bem o trabalho de parto.

O que a doula não faz?

  • A doula não realiza procedimentos clínicos. Para isso, tem-se a equipe médica. Assim, mune a mulher e a família de informações de qualidade e apoio contínuo para que ela seja capaz de decidir sobre cada momento, de forma consciente.
  • A doula jamais decide pela mulher, mas sempre ampara e apoia a decisão que ela tomar, partindo do princípio de que ela já está bem informada sobre prós e contras de cada decisão.
  • A doula não discute com a equipe médica. Busca deixar a mulher ciente sobre seu protagonismo para que ela questione e se queixe quando achar necessário.
  • A doula não utiliza  crenças pessoais suas, mas sim informações que são baseadas em evidências científicas.
Benefícios de se ter uma doula
A presença de uma doula traz inúmeros benefícios e alguns mais relatados vieram à tona num estudo global de Klauss e Kennel.

Nenhum texto alternativo automático disponível.
Foto: livre maternagem

Outros estudos também apontaram os benefícios da doula antes, durante e depois do parto, entre eles:
  • Aumento do sucesso na amamentação
  • Interação satisfatória entre mãe e bebê
  • Satisfação com a experiência do parto
  • Redução da incidência de depressão pós parto
  • Diminuição nos estados de ansiedade e baixa auto-estima
Outros estudos recentes, analisaram mais de 15.000 mulheres em diferentes lugares do mundo, reafirmando a presença da doula como um dos fatores que mais colaboram na melhoria dos resultados do parto.

Embora muitos profissionais de saúde ainda tenham preconceito com relação à presença da doula, A OMS e o Ministério da Saúde incentivam o acompanhamento por uma doula no trabalho de parto e alguns Estados já possuem legislação específica garantindo o direito da mulher ter sua doula no local do parto, como aqui no Distrito Federal, lei nº5534/2015.

Resultado de imagem para ministério da saúde recomenda doula

Em resumo, a doula vem para auxiliar no resgate do protagonismo feminino, buscando proporcionar um parto mais humanizado para mãe e bebê.

Resultado de imagem para Para mudar o mundo é preciso mudar a forma de nascer

Foto: Síntese Dourada







sexta-feira, 2 de junho de 2017

Conselhos para uma mulher forte


Se eu pudesse das um conselho às mulheres seria: "Unam-se umas às outras, se fortaleçam, se amparem, se ajudem. Formem, tenham, façam parte de uma rede de apoio feminina. Vcs não têm noção do poder que emanam juntas e do quanto essa rede é capaz de curar, ajudar, amparar. Conectem-se com seu feminino e apenas unam-se. Na verdadeira união entenderão o motivo."


CONSELHOS PARA A MULHER FORTE
(Gioconda Belli, Nicarágua, 1948)

Se és uma mulher forte
te protejas das hordas que desejarão
almoçar teu coração.
Elas usam todos os disfarces dos carnavais da terra:
se vestem como culpas, como oportunidades, como preços que se precisa pagar.
Te cutucam a alma; metem o aço de seus olhares ou de seus prantos
até o mais profundo do magma de tua essência
não para alumbrar-se com teu fogo
senão para apagar a paixão
a erudição de tuas fantasias.

Se és uma mulher forte
tens que saber que o ar que te nutre
carrega também parasitas, varejeiras,
miúdos insetos que buscarão se alojar em teu sangue
e se nutrir do quanto é sólido e grande em ti.

Não percas a compaixão, mas teme tudo que te conduz
a negar-te a palavra, a esconder quem és,
tudo que te obrigue a abrandar-se
e te prometa um reino terrestre em troca
de um sorriso complacente.

Se és uma mulher forte
prepara-te para a batalha:
aprende a estar sozinha
a dormir na mais absoluta escuridão sem medo
que ninguém te lance cordas quando rugir a tormenta
a nadar contra a corrente.

Treine-se nos ofícios da reflexão e do intelecto.
Lê, faz o amor a ti mesma, constrói teu castelo
o rodeia de fossos profundos
mas lhe faça amplas portas e janelas.

É fundamental que cultives enormes amizades
que os que te rodeiam e queiram saibam o que és
que te faças um círculo de fogueiras e acendas no centro de tua habitação
uma estufa sempre ardente de onde se mantenha o fervor de teus sonhos.

Se és uma mulher forte
se proteja com palavras e árvores
e invoca a memória de mulheres antigas.

Saberás que és um campo magnético
até onde viajarão uivando os pregos enferrujados
e o óxido mortal de todos os naufrágios.
Ampara, mas te ampara primeiro.
Guarda as distâncias.
Te constrói. Te cuida.
Entesoura teu poder.
O defenda.
O faça por você.
Te peço em nome de todas nós.

terça-feira, 7 de março de 2017

Por que o meu bebê chora?

Ao se falar no choro do bebê, devemos pensar primeiramente, no binômio mãe-bebê. Por cerca de 9 meses, mãe e bebê foram um só e mesmo após o nascimento, o bebê ainda não tem essa percepção de que ele e a mãe são pessoas diferentes. Essa percepção ocorre por volta dos 8 meses de idade.
Partindo desse princípio, é essencial que mãe e bebê não sejam separados após o nascimento, mas sim, que seja incentivado o contato pele a pele a partir daí e a amamentação na primeira hora de vida.
Diferente de outros mamíferos, o bebê humano precisa completar grande parte do seu desenvolvimento fora do útero materno. Segundo Sigmund Freud, o bebê humano chega ao mundo "inacabado".
Os primeiros anos de vida, são os anos de aprendizagem, de descobertas, inclusive da descoberta de como é ser um humano. Dentro desses primeiros anos, os primeiros 3 meses são os mais intensos. Faz-se necessário que mãe e bebê aprendam um a linguagem do outro e para isso, a não interferência de terceiros vale ouro e respeitar a intimidade dos dois é primordial. Nessa fase, mãe e bebê estão em outro mundo e a ajuda que a mãe precisa é no serviço doméstico e com os outros filhos, enquanto que com o bebê em si, seria mais ajuda com banho, troca de fraldas, essas coisas, com o consentimento da mãe, é claro.
Quanto menor a criança, mais telepática ela é. Ela capta não só o que acontece à sua volta, mas também em nível de energia, principalmente da mãe. É um ser extremamente sensível e vulnerável.
Ao nascer um bebê, é comum que várias pessoas comecem a visitar aquela pessoa e o novo ser. Ou até mesmo, alguém se muda para aquela casa com a intenção de ajudar a nova mãe. Em muitos casos, o que acontece é o contrário, pois as pessoas tentam nos empurrar sua forma de criar, de fazer, interferindo assim, na intimidade desse binômio e gerando uma tensão. É extremamente importante que a mãe receba cuidados e ajuda nos afazeres da casa para que ELA se conecte ao bebê. Magoar a mãe, desqualificá-la, estressá-la, pode virar cólicas na criança e até mesmo um resfriado.
Segundo Eleanor Luzes, médica psiquiatra e analista junguiana, "Quando uma criança chora, quem precisa ser acolhida é a mãe, algo nela não está sendo cuidado... A criança chora pela mãe". No final do texto tem um vídeo, que recomendo fortemente não só para as mães, mas para os que vivem em volta da criança e da mãe.
Além dessa imaturidade no psicológico, digamos assim, há também a imaturidade fisiológica. O intestino do bebê, por exemplo, termina de ser formado por completo somente por volta dos 3 meses. Há que se ter essa compreensão para que saibamos esperar com cuidado esse desenvolvimento, o mais natural possível. 
Em último caso, é comum que o bebê tenha alguma intolerância ou alergia a algum alimento que a mãe esteja consumindo. Mas essa hipótese, deve ser avaliada somente se o bebê, mesmo com toda a conexão com a mãe, pele a pele, aconchego, ofurô, ainda apresenta um choro insistente e prolongado por dias. A alergia em si, costuma vir junto com outros sintomas. Sendo assim, não é preciso sair cortando os alimentos da mãe, sem realmente ter uma suspeita.
O bebê chora então, por diversos fatores como frio, calor, cólicas, uma etiqueta na roupa, fome, sono, cansaço, estresse e até por se sentir inseguro ou em perigo. A amídala na parte inferior do cérebro, que funciona como um detector de provável perigo funciona perfeitamente logo após o nascimento. Sendo assim, qualquer sinal diferente daquele em que ele estava acostumado dentro do útero fará com que ele fique em alerta. Ele não tem como saber, por exemplo, que o barulho de um liquidificador, de tunts tunts de som alto, não é um predador prestes a devorá-lo.
No início, com a adaptação tanto da mãe quanto do bebê ainda é difícil identificar o motivo do choro, mas com o tempo, e mantendo essa conexão, a mãe aprende a identificar os tipos de choro, assim como o bebê aprende a identificar os atos da mãe, ambos aprendendo a linguagem um do outro.
O choro costuma ter um pico por volta de 3 e 6 semanas do bebê e diminui por volta de 12 a 16 semanas. Há algumas fases em que os bebês os bebês costumam ficar mais chorosos e/ou agoniados, demandando mais atenção, mais mamadas, que são os chamados "picos de crescimento" e "saltos de desenvolvimento". Os picos de crescimento são as fases de crescimento do bebê e os saltos de desenvolvimento é quando o bebê aprende algo novo. Logo após um salto, é possível notar que o bebê aprendeu pequenas coisas como segurar objetos, bater palmas, sentar, engatinhar... Nos quadros abaixo mostra, em média, quando essas fases costumam surgir.



Crise dos 3 meses

Por volta dos 3 meses, às vezes antes, é normal que o bebê adquira mais prática na amamentação, sendo capaz de mamar tudo o que precisa em cerca de 5 minutos ou menos. A mãe, que era acostumada a ficar com seu bebê por horas no peito, se assusta, achando que o filho não está mamando o suficiente. Dessa forma, insiste para que ele mame mais, ele rejeita, ela insiste e nesse jogo de vai e vem mãe e bebê se estressam e mais uma vez gera uma tensão. O que ocorre na chamada crise dos 3 meses?

1. O bebê que antes mamava em dez minutos ou mais, agora acaba em cinco ou menos;


2. O peito, que antes estava inchado agora está mole;


3. O leite que pingava, já não pinga.


4. O aumento de peso está cada vez mais lento.

São acontecimentos normais e esperados, mas que a mãe não foi informada e começa a ficar insegura. Além desses fatores, entre 2 e 3 meses, o bebê passa, ao mesmo tempo, por um pico de crescimento e um salto de desenvolvimento.
É nessa fase, também, que a produção de leite da mãe costuma ajustar-se de acordo com a demanda do bebê. O seio vai enchendo cada vez menos, afinal, peito não é estoque, é fábrica. Como assim? 80% da produção do leite, se dá enquanto o bebê está sugando. O leite que vaza, é excesso e incomoda. Assim, nossa natureza entende que não é preciso produzir em excesso mas sim, na quantidade que o bebê precisa. Quando a mãe não está ciente disso, acaba gerando mais estresse pois foi ensinada pela crença popular de que você só tem leite se estiver vazando.
O bebê começa a ficar mais ativo, gastando mais energia e ganhando cada vez menos peso. É nessa fase que costuma ocorrer grande parte dos desmames precoces. Geralmente pela falta de confiança da mãe e apoio. Seja por acreditar que a criança continua com fome, seja por achar que ele chora porque o leite não sustenta mais, seja por achar que ele não engorda porque o leite está fraco. Lembre-se: são eventos normais e esperados. Afinal, imagina como seria se o bebê continuasse ganhando a mesma quantidade de peso? Chegaria aos dois anos, ou até menos, obeso. Mantenha-se firme, paciente e segura da sua capacidade de amamentar. Acolha seu bebê e mantenha a conexão e o contato pele a pele para que essa fase passe da melhor forma possível.


Angústia da Separação ou crise dos 8 meses

A angústia da separação é a percepção do bebê de que ele e a mãe não são mais um só. Até então, ele acreditava que ambos eram um só corpo e inseparáveis. Assim, o bebê começa a se desesperar ao não ver sua mãe por perto. Essa angústia começa entre 6 e 8 meses e se estende até por volta dos 5 anos da criança, manifestando-se de uma forma ou outra, dependendo de como é conduzida. A separação aflige a criança tanto quanto a dor física. Se você não está com ele, não tem como ele saber que não foi embora para sempre e ele pode sentir pânico e aumentar significamente o nível de substâncias estressantes no cérebro da criança. Leia mais sobre a crise da separação em http://grupovirtualdeamamentacao.blogspot.com.br/2015/01/angustia-da-separacao-crise-dos-8-meses.html

Conforme já foi falado, há vários fatores para o choro do bebê, tanto fisiológicos quanto psicológicos. E para todos eles, a melhor forma de acolhê-lo é mantendo a conexão mãe e bebê. E finalizo com o vídeo da dra. Eleanor, conforme falado acima. 






domingo, 5 de fevereiro de 2017

Alergia à proteína do leite de vaca x Intolerância à lactose x Galactossemia


Primeiramente, repitam comigo: NÃO EXISTE ALERGIA À LACTOSE, NÃO EXISTE ALERGIA À LACTOSE, NÃO EXISTE ALERGIA À LACTOSE. Agora voltemos à programação normal.

Por que repetir a frase acima? Porque é uma das principais dúvidas e dos principais problemas que acabamos enfrentando como pais de alérgicos. Ao se falar que a criança é alérgica a leite, a primeira coisa que as pessoas lembram é da lactose. Já passei por várias situações chatas em que os familiares ou amigos fazem ou compram algo sem lactose achando que seus filhos poderão comer e já escutei, inclusive de médicos, que era só tirar a lactose dos alimentos. 
A lactose, nada mais é do que o açúcar presente no leite e não causa alergia, mas sim uma intolerância em que a gravidade depende do organismo de cada pessoa. É causada pela diminuição ou ausência da lactase: enzima responsável pela digestão da lactose. Na intolerância, é possível que a pessoa ainda tolere pequenas quantidades, na alergia não. Na alergia não existe “só um pouquinho”. Um pedacinho ou o inteiro causa a mesma reação. Vamos falar um pouco sobre cada uma:


Alergia à proteína do leite de vaca
A alergia ao leite de vaca, também conhecida como APLV, é causada pela intolerância às PROTEÍNAS do leite. Ou seja, a alergia é das proteínas e não do açúcar, da lactose. A alergia é uma reação anormal do sistema imunológico às proteínas dos alimentos. Quanto ao leite de vaca, suas principais proteínas são: caseína, alfa-lactoalbumina e beta lactoglobulina. Aí vai um alerta na hora de ler os rótulos pois nem sempre o leite vem escrito conforme conhecemos mas sim com o nome das proteínas.
A alergia à proteína do leite de vaca é mais comum em bebês, pela imaturidade do sistema digestivo e bem rara em adultos. Alguns raríssimos casos chegam à vida adulta, geralmente quando não se fez a dieta restritiva adequada na infância. Pode ter alguns ou vários sintomas que variam de problemas de pele, respiratórios, intestinais, como: inchaço e/ou irritação nos lábios e olhos, urticária, dermatite atópica, coriza, vômitos e diarreias, cólicas intensas, fezes com sangue ou muco, assaduras persistentes, intestino preso, corte ou dermatite atrás da orelha (esse é um clássico), tosse, chiado no peito e dificuldade para respirar, irritabilidade, dificuldade em ganhar peso, anafilaxia e até um choque anafilático quando em sua forma mais grave. Podem ocorrer em minutos, horas ou dias após a ingestão de leite de vaca ou derivados, de forma persistente ou repetitiva.
O bebê amamentado pode apresentar alergia a algum alimento que sua mãe tenha consumido. Os mais comuns são: leite de vaca, ovo, soja, oleaginosas, peixes e frutos do mar em geral. Nesse caso, não basta apenas cortar o alimento da alimentação do bebê, mas também da mãe.
Não se deve atribuir qualquer problema do bebê à alergia. Para que se confirme uma provável alergia, é recomendado que retire o alimento tanto da alimentação da mãe (em caso de bebê amamentado) quanto do bebê por pelo menos 15 dias e observar se há melhora. Mais na frente veremos sobre como proceder com esses testes.
A boa notícia é que com uma dieta restritiva adequada, a APLV tem cura. Por volta dos 3 anos da criança, o sistema imunológico já está mais forte e é nessa fase que costuma-se ter relatos de cura. Algumas crianças se curam mais cedo, outras um pouquinho mais tarde, depende do organismo de cada uma, da dieta e da gravidade da alergia.


Intolerância à lactose
A intolerância à lactose é causada pela incapacidade de digerir a lactose, o açúcar do leite, devido à falta ou diminuição da lactase, enzima responsável por essa digestão. É mais comum do que a alergia e mais frequente em crianças maiores, já desmamadas, e adultos. Enquanto a alergia tem cura, após dieta restritiva e melhora do sistema imunológico da criança, por volta dos 3 anos, a intolerância à lactose não; e é extremamente comum. Raros somos nós, adultos, que podemos tomar leite, tranquilos, sem sentir nenhum tipo de desconforto.
Enquanto que a alergia tem sintomas variados, os sintomas da intolerância à lactose são intestinais, como cólicas, gases, diarreia, distenção abdominal, etc. Esses sintomas podem ocorrer em minutos ou horas após a ingestão do leite de vaca.
A lactose do leite materno não tem nada a ver com o leite de vaca, assim como não tem nada a ver com o fato da mãe tomar ou não leite. A lactose do leite de vaca não se absorve, para que se passe pelo leite materno. Ela é consumida, digerida e destruída. Ainda que a mãe tome litros de leite de vaca, em seu sangue, não há uma única molécula de lactose. E esse é o problema da lactose, ou se tem a lactase necessária para que essas moléculas sejam destruídas, ou não se tem e aí vem a intolerância, que causa problemas gástricos e intestinais, mas jamais se absorve e muito menos passa para o leite materno. Ela fica ali, em excesso no organismo, causando desconforto e os devidos problemas.
A lactose do leite materno é produzida no próprio seio e é produzida independente da mãe tomar ou não leite de vaca. Ou seja, é algo produzido pelo corpo humano e próprio para o bebê humano. É muito comum vermos médicos, enfermeiras e afins contraindicando o aleitamento materno alegando que a mãe passa lactose para o bebê causando alergia. CUIDADO! Muito se confunde alergia com intolerância e lactose do leite materno com lactose do leite de vaca. Em nenhum caso, mesmo de alergia alimentar, se contraindica a amamentação. Pelo contrário, além da lactose do leite materno ser benéfica para o bebê, o leite materno possui propriedades restauradoras que auxiliam na cura da alergia alimentar, melhora do sistema imunológico e cicatrização do intestino, que acaba ficando bem debilitado.
Existe uma raríssima intolerância primária à lactose, que é diferente da intolerância secundária, em que não se contraindica o leite materno. É a galactossemia.



Galactossemia
A galactossemia é uma grave enfermidade congênita que afeta 1 em cada 50.000 recém-nascidos. Não tem nada a ver com a intolerância secundária, que é comum e não contraindica a amamentação. Só falarei sobre a galactossemia para que não se confunda, pois é uma enfermidade raríssima e grave em que faz-se necessário a eliminação total de galactose e consequentemente lactose da dieta do bebê. 
O bebê com galactossemia não pode consumir galactose/lactose de origem animal, nem mesmo o leite materno. É um dos raros casos em que se contraindica a amamentação. A eliminação total da galactose/lactose deve ser mantida até pelo menos os 3 anos da criança e a partir daí, algumas toleram algumas pequenas quantidades.
É importante adotar a dieta adequada o mais rápido possível pois a galactossemia pode causar catarata, icterícia, retardo mental, cirrose, baixo ganho de peso, vômitos, hipoglicemia, entre outros. A boa notícia é que é possível saber sobre a doença assim que o bebê nasce pois é detectada no teste do pezinho. Ela não é adquirida, se deu negativo, a criança não tem.
Espero que tenha ficado claro a diferença dos três principais tipos de “intolerância”. Não se deixem confundir, pois como já foi falado, apenas a galactossemia é contraindicação para o leite materno e ela é detectada no teste do pezinho. E relembrando: não existe alergia à lactose!




Referências bibliográficas:

Tormo, R. Alergia e intolerância a la proteína de la leche de vaca (Protocolo de la Asociación Española de Pediatria).www.aeped.es/protocolos/gastroentero/1.pdfPumberger W, Pomberger G, Geisser W, Proctocolitis in breast fed infants: a contribution to differential diagnosis of haematochezia in early childhood. Postgrad Med J 2001; 77: 252-4http://pmj.bmjjournals.com/cgi/content/full/77/906/252Clyne PS, Kulczycki A. Human breast milk contains bovine IgG. Relationship to infant colic? Pediatrics 1991;87;439-444Iacono G, Cavataio F, Montalto G, Florena A, Tumminello M, Soresi M et al. Intolerance of cow´s milk and chronic constipation in children. N Engl J Med 1998;339: 1100-4 (Tradução de Fernanda Mainier)



Un regalo para toda la vida – Guia de lactancia materna, do Dr. Carlos González


http://www.alergiaaoleitedevaca.com.br

sábado, 6 de setembro de 2014

Como turbinar a imunidade dos pequenos



Chegou o tempo seco e com ele, as ites, viroses, problemas respiratórios e afins. O bom é saber que algumas atitudes podem colaborar para uma boa saúde dos pequenos.

Primeiramente, vamos falar um pouquinho sobre as crias daqui. Helena, 5 anos, é alérgica à proteína do leite de vaca. Como todo alérgico, a imunidade fica mais enfraquecida e devido à isso, desde que ela nasceu eu procuro alternativas para aumentar sua imunidade. Isaac nasceu com a mesma alergia, mas devido ao aprendizado que adquiri na época da Helena não sofre dos mesmos problemas que ela sofria na mesma idade, ou seja, até hj ainda não adoeceu, graças, rsrs. Embora a alergia devesse enfraquecer a imunidade, Helena tb não adoece com facilidade. O único problema é a alergia em si, que trouxe com ela uma rinite. Sendo assim, entrou em contato com o alérgeno, reagiu. Fora isso, nada mais, nem doenças provenientes de mudança do clima, nem doenças provenientes dos colegas da escola, nem quando adoecemos perto dela, nem nada. E quando isso ocorre, dura 1 dia rsrsrs.

A imunidade da criança é adquirida devido a um conjunto de fatores, ou seja, não é fazendo isso ou aquilo, usar uma fórmula mágica, que a criança vai se curar ou não vai adoecer. Ela vai sendo fortificada aos poucos, com um conjunto de fatores que colaboram para isso. Sendo assim, aí vai algumas dicas:



  1. Amamentação 

A amamentação traz muitas vantagens, tais como: evita mortes infantis, diarréias, infecção respiratória, diminui o risco de hipertensão, colesterol alto, diabetes e obesidade, proporciona uma melhor nutrição para a criança, colabora para um efeito positivo na inteligência bem como proporciona uma melhor qualidade de vida.

O aleitamento materno exclusivo até os 6 meses é importante para que se dê tempo ao organismo da criança para amadurecer, no todo, para receber qualquer alimento novo, evitando assim que o organismo responda negativamente com doenças corriqueiras ou alergias. O aparelho digestivo está diretamente ligado com a função imunológica, portanto, quanto mais maduro para receber novos alimentos, melhor.

Durante o primeiro ano de vida, o leite materno é o carro-chefe da alimentação infantil, ainda sendo mais importante do que a alimentação complementar. Como o próprio nome diz, a alimentação é COMPLEMENTAR, justamente para se complementar o leite materno que deveria continuar sendo oferecido em livre demanda.

No 2° ano de vida, o leite materno ainda fornece energia, proteína, ferro, vitamina A, ou seja, ainda vale por uma refeição, bem como continua a proteger a criança.

Amamente exclusivamente por 6 meses e mantenha a amamentação até pelo menos 2 anos. E caso tenha alguma dificuldade com o aleitamento, procure ajuda especializada, como bancos de leite humano, consultoras de amamentação ou profissionais de saúde ESPECIALIZADOS em aleitamento materno.




   2. Ensine bons hábitos alimentares

Incentive desde a introdução alimentar o consumo de frutas e verduras, fibras, proteínas, bem como evite açucar, frituras e industrializados. O paladar do bebê é virgem e aprende conforme formos ensinando e insistindo. Quaisquer desses alimentos industrializados, bem como açucar e afins, oferecidos na fase de introdução alimentar, acabam prejudicando na aceitação dos alimentos mais saudáveis. Eu vou mais além, evite até pelo menos 2 anos. A partir daí, a criança já se acostumou a uma dieta saudável e mesmo que acabe consumindo vez ou outra, continuando com os hábitos dentro de casa, ainda se mantém a preferência pelos alimentos saudáveis. Não ensine apenas com palavras, dê o exemplo e não substitua refeições. Existem alguns alimentos que colaboram para a imunidade, são eles:



  • Alho


Possui uma ação antibacteriana e é muito efetivo na prevenção de doenças em geral, bem como males cardiovasculares. Além disso, é um excelente diurético e colabora para a eliminação de líquidos e toxinas no organismo. É excelente para a digestão e previne problemas estomacais e intestinais. Além de tudo, ainda é um antibiótico natural, anti fungicida e anti viral.

Acrescente alho nas refeições, mas o inclua por último. Quanto mais cru, mais eficaz.

  • Cebola

A cebola potencializa a função imune e evita doenças virais e alérgicas. É como o alho, quanto mais crua melhor. Ela é anticancerígena, purificadora do sangue e aumenta as defesas do nosso organismo. Além de ser fonte de selênio, que funciona como antioxidante, protegendo as células contra possíveis agressões. O chá de cebola usado para a inalação é eficaz para o descongestionamento nasal.

  • Gengibre

Além de ser outro antibiótico natural, ele melhora a absorção e assimilação dos nutrientes essenciais. Uma dica é colocar um pedaço de gengibre dentro do arroz. Ele também regula o apetite e é eficaz no tratamento de inflamações de garganta e congestão nasal.

  • Quinoa


Possui aminoácidos como a metionina e a lisina, importantes para o sistema imunológico, crescimento ósseo, formação de colágeno, desintoxicação e várias outras funções, que são deficientes em dietas sem carne e ovos, essenciais para o desenvolvimento da memória e aprendizagem. Também possui triptofano, aminoácido percussor da serotonina, importante para a regulação do humor, e que estimula a produção de GH, ou seja, é um excelente aliado ao crescimento das crianças!
Conta ainda com bastante vitaminas, é rico em ferro, magnésio e outros minerais.


  • Inhame


Na alimentação das crianças ele pode e deve ser incluído desde cedo. São encontrados nele diversos nutrientes e vitaminas importantes para o desenvolvimento dos pequenos, em especial a vitamina B1, importante no crescimento das crianças, e a vitamina B5, que reforça o sistema imunológico.

Além disso, é eficaz na prevenção de doenças como: dengue, malária e febre amarela e atua limpando nosso sangue, fortalecendo o sistema de defesa do nosso organismo.

  • Alimentos ricos em vitamina C


A vitamina C aumenta a produção das células de defesa, que tem efeito direto sobre as bactérias e vírus aumentando assim a sua a resistência a infecções. Suas propriedades antioxidantes podem combater e prevenir os sintomas da diabetes, causado por um aumento no estresse oxidativo. E ainda, fortalece os ossos, dentes e gengivas, melhora a visão e nos ajuda a evitar a depressão.


  • Ômega 3


O principal benefício do ômega 3 é a sua propriedade anti-inflamatória. Os benefícios do ômega 3 estendem-se para a redução do risco de desenvolver diversas doenças, incluindo:• Diabetes;
• Acidente vascular cerebral (derrame);
• Artrite reumatóide;
• Asma;
• Síndromes inflamatórias intestinais (colites);
• Alguns tipos de câncer;
• Declínio mental.


   3. Aromaterapia

Aromaterapia é a ciência que cuida tanto dos aspectos físicos quanto emocionais por meio de óleos essenciais e vegetais puros. Alguns óleos essenciais são ótimos para prevenir e curar problemas decorrentes da infância. Bebês e crianças adoram cheiros. É como eles reconhecem o mundo em volta deles, sendo o primeiro cheiro a reconhecerem, o da mãe. Se forem bem administrados, os óleos essenciais vão se mostrar muito eficazes no trato com os bebês e crianças. 

Aqui segue um artigo com dicas de aromaterapia para os pequenos: http://claramanik.wordpress.com/?s=aromaterapia


Para o aumento da imunidade, utilizo uma sinergia à base de tea tree, lemongrass e alecrim:

Tea tree: Um dos maiores benefícios do óleo essencial de tea tree é seu efeito cicatrizante. Pode ser usado sobre picadas de insetos, brotoejas, micoses, fungos, dermatites, aftas, herpes, pé-de-atleta, verrugas, infecções vaginais, assaduras de bebês, entre outros. É ainda considerado imunoestimulante, antibiótico natural para doenças fúngicas, bacterianas e viróticas.

Lemongrass: É o óleo das crianças. É revigorante e relaxante além de estimular o afeto e o aconchego. Possui ainda, propriedade fungicida e bactericida.

Alecrim: Possui efeito positivo no cérebro e sistema nervoso. É utilizado no tratamento da bronquite, catarro, asma, sinusite, tosse convulsa, acne, eczema e dermatite.

Receita de sinergia para aumentar a imunidade:

50 ml de álcool de cereais

50 ml de água filtrada

4 gotas de óleo essencial de tea tree

4 gotas de óleo essencial de lemongrass

2 gotas de óleo essencial de alecrim

Coloque em um recipiente com spray e borrife todos os dias no ambiente em que a criança fica ou em um colar aromático.


Outra dica é pingar óleos puros no chão do box durante o banho ou na banheira do bebê. No chão do box, pingue 4 gotas de óleo, na banheira, 2 gotas.

   
   4. Banho de sol

Recomenda-se que os bebês tomem banho de sol por 5 a 10 minutos nos primeiros 15 dias de vida. Com o tempo, vai-se aumentando esse tempo gradativamente até atingir uns 15 a 20 minutos diários. Além de colaborar para a imunidade, o banho de sol ajuda a regular o relógio biológico da criança e principalmente, ajuda o organismo a ativar a vitamina D, evitando o raquitismo.


   5. Deixe a criança explorar o mundo à sua volta

O ideal é manter os cuidados básicos de higiene, como lavar as mãos após ir ao banheiro, antes das refeições, escovar os dentes, manter a casa sempre limpa, além higienizar os utensílios e roupas da criança - mas sem paranoia!

O excesso de higiene inibe a produção e a ação de anticorpos do nosso organismo. A imunidade é construída na infância, a partir de estímulos externos e reações internas do organismo e que, quando esta relação de dependência é afetada de alguma maneira, não produzimos anticorpos suficientes para combater a doença e chegamos a vida adulta com mais chances de desenvolver quadros graves de alergias e baixa resistência.

Passeios no parque, andar descalço na areia, se sujar, são atividades naturais e necessárias aos pequenos, e privá-los pode ser prejudicial no futuro.


   6. Não demonize friagem

Esse é o mais difícil, devido à cultura enraizada dos antigos, que acreditam piamente que a friagem é a culpada por gerar doenças. Se fosse verdade, como viveriam as pessoas que moram em lugares frios, de baixa umidade e que até nevam? Doenças são causadas por vírus, fungos e bactérias e não por beber gelado, pegar friagem ou vento no rosto. Um texto muito bom do dr. Drauzio Varela explica um pouco desse mito: "Olha esse vento nas costas, menino!"

O dr. Wilson Rocha (pediatra pneumologista) ainda completa: "Ao contrário do que muitos pensam, andar descalço, dormir de cabelo molhado, tomar sorvete e outros gelados, abrir geladeira, pegar chuva, sereno ou vento não predispõe a infecções respiratórias. Quando venta não está ventando vírus, quando chove não está chovendo doença e quando se pisa no chão descalço a infecção não sobe pelo pé feito lagartixa. Criança abaixo de 5 anos de idade tem em media 10 resfriados por ano, sendo que algumas podem ter até 15 viroses por ano. Isto é ainda mais frequente em crianças que freqüentam creches ou aquelas que têm irmão mais velho em atividade escolar. Isto é NORMAL! Não se trata de falta de cuidado, baixa resistência ou fraqueza do organismo. Crianças pequenas trocam de vírus igual trocam de figurinha. É por isto que as escolas são um verdadeiro zoológico, um almoxarifado de vírus. Do mesmo jeito que crianças recebem vírus elas também transmitem o vírus para os outros." Leia mais sobre as doenças do inverno.

Privando a criança de pegar um vento, andar descalça, tomar um banho de chuva, beber gelado, só a ensinará a ficar sensível ao frio, adoecendo cada vez que entrar em contato com alguma dessas atividades.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Amamentação, nudez e denúncias

Está rolando uma campanha contra a censura às mães que postam fotos amamentando na net. Pois bem, vamos refletir um pouquinho sobre o assunto porque essa inversão de valores está foda! No país do carnaval, da globeleza que samba totalmente pelada em horário nobre, há quem se ofende com uma foto de mãe amamentando? Meio controverso né? Pode-se postar fotos de biquini, de vestido curto, shortinho, ou até pelada no carnaval, mas amamentando não pode? Postar fotos de crianças rebolando até o chão, vestidas como mini adultas ou nem vestidas, pode, mas amamentando não? E é por essas e outras que só se anda pra trás, pois julgar erótico ou pornográfico um gesto fisiológico, natural, só mostra o quão doente nossa sociedade está. Peito na TV pode, peito no carnaval pode, peito no dia a dia, num decote escandaloso, a qualquer hora e lugar pode, mas amamentando é feio, impróprio e pornográfico.

A amamentação é fonte de alimento, carinho, conforto. Nutre o corpo e a alma. E se você vê algum problema numa imagem como essas, procure ajuda, pois quem tem problemas é você. E aos que pedem para pelo menos tapar com um paninho, experimentem comer com um paninho na cara.

AMAmente e poste suas fotos com a hastag #mamaçovirtual e participe.



segunda-feira, 19 de maio de 2014

Pré-eclâmpsia, eclâmpsia, diabetes gestacional e a cirurgia desnecessária

Estava eu matutando por esses dias sobres os motivos absurdos que os médicos inventam para levar uma mãe à uma cirurgia desnecessária. Vamos começar raciocinando um pouquinho ok? Qualquer cirurgia que formos fazer, nos é solicitado uma bateria de exames para avaliar o risco cirúrgico. Caso a glicose e a pressão estiverem alteradas, por exemplo, não podemos ser operados e a cirurgia só é marcada para quando tudo se normaliza. Pois bem, por que raios, justo quando você está grávida, te empurram pra uma cirurgia alegando diabetes gestacional ou pressão alta, sendo que nesses casos a cirurgia é mais arriscada? Mas aí mãe e bebê sobrevivem e o médico é aplaudido pois supostamente ele "salvou" a vida de ambos né. Ao menos, essas mulheres sabiam que poderiam sim ter um PN e que só em alguns casos realmente é necessário intervir com a cirurgia? E o pior, na maioria dos casos, a mulher é levada à sala de cirurgia sem ter feito nenhum exame recentemente, sem avaliar qualquer risco. Como ele tem coragem de dizer que a cirurgia é menos arriscada? A questão não é só sobreviver, vai mais além. Afinal, de sobreviventes, o Brasil está cheio. E não é a toa que a OMS está em cima devido a quantidade de cirurgias terem passado de 20%.

A cesárea só é em indicada, MESMO, em raríssimos casos, são eles:

  • Placenta prévia centro total ou centro parcial 
  • Herpes ativo durante o trabalho de parto 
  • Apresentação córmica (situação fetal transversa mantida após tentativa de versão cefálica externa) 
  • AIDS doença ou situação imunológica desconhecida ou tratamento inadequado durante a gestação (carga viral para HIV > 1.000 cópias, dosagem no terceiro trimestre). 


E mesmo nessas situações, apenas a placenta prévia e a AIDS, são motivo para o agendamento da cirurgia. No restante dos casos, a cesariana só é indicada após o início do trabalho de parto. Bem como algumas situações intraparto também podem resultar na indicação de uma cesariana. Para saber mais, segue o link: http://estudamelania.blogspot.com.br/2012/08/indicacoes-reais-e-ficticias-de.html




Pré-eclâmpsia e eclâmpsia (pela dra. Melania Amorim)



Segue a diretriz da OMS para o tratamento de pré-eclâmpsia e eclâmpsia: http://whqlibdoc.who.int/publications/2011/9789241548335_eng.pdf



A hipertensão complica cerca de 10% de todas as gestações, e pode se apresentar como pré-eclâmpsia (ou, nos casos mais graves, eclâmpsia), hipertensão crônica, hipertensão crônica com pré-eclâmpsia superposta e hipertensão gestacional. De acordo com um consenso realizado em 2000 nos EUA (National High Blood Pressure Education Program Working Group on High Blood Pressure in Pregnancy), através de uma combinação de medicina baseada em evidências com a opinião de especialistas, a definição de pré-eclâmpsia é dada por hipertensão (pressão arterial sistólica maior ou



igual que 140mmHg e/ou diastólica maior ou igual que 90mmHg), que surge depois de 20 semanas de gravidez, associada com proteinúria (excreção de proteína na urina) > 300mg nas 24 horas. Esta é a classificação adotada atualmente no IMIP – Instituto Materno Infantil de Pernambuco em Recife (PE).



A presença de edema não faz mais parte dos critérios diagnósticos, porque não apresenta correlação com o prognóstico gestacional, visto que grávidas perfeitamente normais podem apresentar edema, mesmo edema generalizado. Exames como hemograma, uréia, creatinina, ácido úrico, contagem de plaquetas, testes de função hepática (transaminases) e bilirrubinas fazem parte da propedêutica complementar, mas não dos critérios diagnósticos. Estes exames servem para avaliar a gravidade da pré-eclâmpsia, mas o diagnóstico não depende de sua alteração.



A pré-eclâmpsia pode se sobrepor a uma hipertensão crônica pré-existente, quando então é dita pré-eclâmpsia superposta. Somente a pressão alta não permite o diagnóstico de pré-eclâmpsia. Existe a hipertensão gestacional, em que surge a hipertensão no final da gravidez e que é transitória, não se associa com proteinúria, nem riscos maiores para a mãe e para o bebê. Nessa circunstância, recomenda-se tranqüilizar a gestante, realizar os exames para afastar pré-eclâmpsia, avaliar o bem-estar fetal, e pode-se aguardar o trabalho de parto espontâneo. A hipertensão gestacional não indica a cesariana, e habitualmente também não requer a antecipação do parto, exceto se os níveis tensionais estão muito elevados (por exemplo, 160x110mmHg ou mais).



A pré-eclâmpsia é associada com algumas complicações, como o risco de eclâmpsia (a crise convulsiva), síndrome HELLP (há comprometimento do fígado, das plaquetas e anemia), descolamento prematuro de placenta, alterações da vitalidade fetal e aumento da morbidade e mortalidade neonatal. Entretanto, NÃO constitui indicação de cesárea. A indicação de interromper a gravidez vai depender da idade gestacional, da gravidade da pré-eclâmpsia e da presença ou não de complicações. 



Antes de 34 semanas, e na ausência de complicações maternas ou fetais, é possível manter conduta conservadora nos casos de pré-eclâmpsia grave, para aguardar a maturidade fetal. Nesses casos, recomenda-se administrar corticóide (betametasona) para acelerar a maturação pulmonar do bebê. Drogas hipotensoras, como alfametildopa e bloqueadores dos canais de cálcio, são administradas para tentar controlar a pressão arterial. A partir de 34 semanas, em geral indica-se a interrupção da gravidez, que pode também ser necessária antes dessa idade gestacional, se surgirem complicações colocando em risco o bem-estar da gestante ou do bebê.



Entretanto, o parto vaginal é possível, e a cesárea será realizada somente se houver indicação específica e não pela pré-eclâmpsia per se. É claro que a chance de cesárea está aumentada, em virtude de algumas complicações (como o descolamento prematuro de placenta e alterações da vitalidade fetal, por exemplo) indicarem o parto imediato, porém em muitos casos pode ocorrer o parto normal, sem riscos para a mulher. O parto normal é preferível em diversas circunstâncias, porque os distúrbios da coagulação podem complicar a pré-eclâmpsia, e o risco de sangramento é, evidentemente, muito maior na cesariana em relação ao parto normal. Além disso, se houver redução acentuada da contagem de plaquetas (abaixo de 70.000/mm3), não pode ser feita anestesia regional (raquidiana ou peridural) e, na cesariana, a anestesia terá que ser geral, com maiores riscos.



Indução do parto também pode estar indicada em mulheres com pré-eclâmpsia, quando há a indicação de interrupção da gravidez, porém ainda não se desencadeou o trabalho de parto. Como o colo do útero pode não estar dilatado, utilizam-se geralmente comprimidos vaginais de misoprostol (um análogo das prostaglandinas). Deve-se monitorizar a freqüência cardíaca fetal e a contratilidade uterina. Em um trabalho recentemente realizado no IMIP, a taxa de partos normais após indução em mulheres com pré-eclâmpsia a termo foi de 74%. 



O sulfato de magnésio está indicado para prevenção da eclâmpsia, e evidências consistentes, incluindo uma revisão sistemática da Biblioteca Cochrane, indicam que a droga é efetiva para reduzir a incidência de eclâmpsia e a morte materna, sem efeitos prejudiciais para o concepto. É possível que, durante o trabalho de parto, como o sulfato de magnésio diminui as contrações uterinas, seja necessário o uso de ocitocina.



Nos casos de pré-eclâmpsia leve, não há indicação geralmente de antecipar o parto, podendo-se aguardar até 40 semanas, desde que os níveis tensionais estejam controlados, gestante e feto em boas condições. Entretanto, devem ser amiudadas as consultas pré-natais, visando a detectar uma possível evolução do quadro para pré-eclâmpsia grave. Dieta equilibrada, repouso relativo, períodos de descanso em decúbito lateral esquerdo, também são recomendados. O parto normal, espontâneo, é perfeitamente possível nesta situação. 



O ideal seria, realmente, prevenir, evitar a pré-eclâmpsia. Sabe-se que algumas mulheres têm maior risco: as que engravidam pela primeira vez, as hipertensas crônicas, as obesas e aquelas com história familiar de pré-eclâmpsia ou eclâmpsia. Quem já teve pré-eclâmpsia ou eclâmpsia em gestação anterior também tem risco aumentado de desenvolver novamente a doença nas gestações seguintes. Estão envolvidos mecanismos genéticos, imunológicos, e uma série de mediadores bioquímicos, como prostaglandinas, endoperóxidos, radicais livres, citocinas... Todos estão relacionados ao processo de desenvolvimento da placenta, porque por algum motivo, genético-imunológico, ainda não completamente desvendado, não ocorre penetração adequada da placenta nas camadas do útero, e a unidade útero-placentária não é bem perfundida (oxigenada). Essa isquemia é que leva ao desencadeamento das alterações bioquímicas, que acabam por induzir hipertensão, proteinúria e efeitos diversos em vários órgãos e sistemas, incluindo rins, fígado, cérebro, coagulação sanguínea...



Infelizmente a prevenção ideal ainda não foi encontrada. Alguns estudos apontam que a suplementação de cálcio em populações com baixa ingestão pode prevenir a ocorrência de pré-eclâmpsia. Em mulheres com risco elevado, parece haver efeito benéfico o uso de aspirina em baixas doses, e recentemente tem sido proposta a suplementação das vitaminas C e E (estudos clínicos estão em andamento). Recomendações básicas são manter uma dieta equilibrada, tentar se enquadrar dentro dos limites normais de peso antes de engravidar e não ganhar peso excessivamente durante a gestação. 







Diabetes gestacional




É a intolerância à glicose, que ocorre em várias intensidades e pode ou não persistir após o parto. Embora não seja indicação absoluta para cesárea, tem-se essa indicação a torto e à direita por parte da maioria dos profissionais sem se preocupar com a análise individual de cada caso.



Uma dieta adequada à gestante, bem como a atividade física, deve fazer parte da estratégia de tratamento. Se mesmo com a dieta os níveis glicêmicos permanecerem elevados, recomenda-se iniciar tratamento com insulina. As necessidades insulínicas tendem a aumentar progressivamente durante a gravidez, um sinal clínico indireto de funcionamento placentário. Os antidiabéticos orais são contra-indicados.



O diagnóstico de diabetes gestacional não indica necessariamente a cesariana, que deve ser reservada aos casos de indicação obstétrica, como macrossomia ou sofrimento fetal, por exemplo.



Não existem estudos prospectivos demonstrando que a cesariana previna trauma fetal em gestantes com DG. A via de parto é obstétrica na dependência da vitalidade fetal e do escore cervical. Assim como não existe indicação de antecipação do parto antes das 40 semanas na DG controlada com dieta e com bom controle glicêmico. (Turok et al 2003, Conway 2007)


Em ambos os casos, diabetes ou eclâmpsia, as mulheres têm sim a opção do parto normal e só em último caso, há a necessidade da cirurgia. Mas a realidade obstétrica brasileira distorce essas indicações e nos impõe como opção apenas a cesariana. Basta olharmos em volta e procurar algum caso de conhecidas em que se ouviu falar em parto normal em alguma dessas situações. Continuemos nos informando e lutando para que a realidade da saúde brasileira mude e só assim será possível a mudança.