terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Desmistificando a criação com apego



Hoje em dia, um assunto tem tomado cada vez mais espaço nas discussões sobre maternidade, é a chamada "criação com apego". Mas o que vem a ser a criação com apego? O termo origina-se da expressão em inglês "attachment parenting" e nada mais é do que seguir seus próprios instintos. Toda criança já nasce com a necessidade de estarem perto dos seus pais e virce-versa. Mas devido à cultura, esse instinto acaba ficando de lado, sendo o mais comum "educar" a criança, desde cedo, para adquirir independência.

Ao se falar em criação com apego, por puro desconhecimento e preconceito, muitas pessoas repelem essa idéia pensando se tratar apenas de crianças grudadas aos pais. O que muita gente não sabe, é que a criança inserida nesse modelo de criação, ou seja, criada com carinho, dignidade, respeito às suas necessidades, inclusive emocionais, tendem por sí próprias buscar sua independência. Vejamos alguns mitos:


"Deixa chorar, pra não ficar mal acostumado"

Você gosta de ter seu choro, suas reclamações e frustrações ignoradas? E por que a criança, mais sensível, vulnerável, que não tem pleno conhecimento das coisas, precisa "aprender" a chorar sozinha para não ficar mal acostumada? Pois bem, os estudos demonstraram que quando a criança cumpre um ano, as mães que tinham atendido rapidamente o seu choro tinham filhos que choravam muito menos que aquelas que haviam optado por deixar chorar. Apesar que alguns pensam que as crianças se apegam porque foram muito mimadas e queridas, “mal acostumados” por excesso de atenção, não há provas que corroborem a teoria segundo a qual o apego ansioso é resultado do afeto e atenção excessivas por parte dos pais.
Crianças tornam-se mal acostumadas, quando têm suas necessidades físicas e psicológicas ignoradas e substituídas por presentes. Dê presença!


card by: Thiago Queiroz

"As crianças têm que acostumar a dormirem sozinhas desde cedo"


Crianças que dormem em cama/quarto compartilhado tendem a ser – veja só – MENOS medrosas e MAIS independentes do que aquelas que dormem sozinhas. Por alguma razão, as pessoas começaram a acreditar que os bebês precisavam ser mais independentes, e que aprender a dormir sozinhos desde o primeiro dia de nascidos seria uma forma de fazer isso. Primeiramente, é uma besteira enorme dizer que os bebêsprecisam ser independentes – eles não podem ser, afinal, são bebês! Eles sequer sabem que existem até completarem um aninho de vida ou mais, então como podem ser independentes antes disso?  Contudo, conforme as crianças crescem, elas se tornam (felizmente) mais independentes, e nessa fase são as crianças que dormiram com os pais (ou continuam dormindo) e receberam toneladas de carinho e contato corporal que se mostram as mais destemidas, enquanto as que foram deixadas sozinhas para serem "independentes" enquanto bebês tendem a ser mais tímidas, ansiosas e amedrontadas. 
Estudos recentes comprovam os malefícios do treinamento precoce do sono. Leia mais aqui: Provados os malefícios do treinamento precoce do sono


"Depois dos 6 meses, 1 ano, 2 anos, o leite vira água"

Puro mito! Ele nunca vira água, nem depois dos 2, 3, 4 anos ou mais. Continua rico em nutrientes e valendo por uma refeição, como segue no quadro abaixo: 
Além do mais, uma descoberta recente mostra que o leite materno pode, inclusive, bloquear o vírus HIV.
Mais um quadro que ilustra a quantidade de nutrientes no 2° ano de vida:



"Não pode fazer isso porque eu disse que não"


Você aprende algo dessa forma? Com um simples não, sem explicação qualquer, só por autoritarismo? Evitar o não e escolher a criação com apego não é ser permissivo, ao contrário, é praticar a empatia, se colocar no lugar da criança e procurar a melhor forma de fazê-la entender. Ao invés de usar um "não", puro e seco, procure explicar, com base no diálogo, carinho e respeito. Aqui segue algumas dicas do papai Thiago Queiroz em seu blog:






  • evite o “não” pelo “não”. Ouvir um “não” assim, puro, sem mais nem menos não ajuda em nada, não explica e não ameniza a frustração do bebê;
  • torne a casa segura para o bebê. Proteja tomadas, quinas, guarde o que pode quebrar e você não precisará ficar correndo atrás do seu bebê para protegê-lo;
  • distração e alternativa. Quando o seu bebê está brincando com algo que não deveria, converse com ele (mesmo que ele não entenda nada) e ofereça uma alternativa, que pode ser outro brinquedo ou atividade;
  • escolha as suas batalhas. Sempre que o bebê estiver fazendo algo que você não quer deixar, se pergunte: “será que ele realmente não pode mexer nisso, ou sou só eu que não quero?”. Às vezes, é melhor para o bebê e para a mãe que você deixe ele satisfazer uma curiosidade, se isso não envolver riscos à segurança dele.



  • "Dormir junto com os filhos prejudica a vida sexual do casal?"

    Cuma? Se um casal, depois que tiveram os filhos, não faz mais sexo, a culpa não é da cama compartilhada. Aliás, pra um casal bem resolvido sexualmente, a cama é apenas mais um acessório na vida afetiva no casal. Sim, existem outros lugares e cômodos da casa que o casal possa usar e abusar, basta usar a criatividade.





    "Só uma palmada pra educar não faz mal"

    Uma palmada faz mal sim! Estudos demonstram que a palmada destrói o desenvolvimento e diminui o QI nas crianças, leia mais aqui: http://maeinusa.blogspot.com.br/2013/10/como-punicao-fisica-pode-prejudicar-o.html. Punição não tem nada a ver com educação.  Enquanto a punição advém da raiva, descontrole e despreparo do cuidador; a consequência implica em paciência, empatia, autocontrole e raciocínio lógico do adulto no sentido de mostrar à criança que ela é responsável pelos seus atos. A criança responde e aprende muito melhor em um contexto de Disciplina Positiva! 

    Segue alguns argumentos pelos quais a palmada não funciona:

    • Bater ensina a bater. Uma criança que recebe uma palmada, entende que bater é algo permitido ou possível. Mais, que alguém maior pode bater em alguém menor. Assim, um irmão  maior pode se sentir “autorizado” a bater em um menor ou na escola usar violência contra uma criança menor.
    • Bater ensina que esse é um bom método de se resolver problemas e que a agressão física é uma atitude normal e que a força bruta é mais importante que o diálogo.
    • Bater mina a auto estima da criança porque esta sente que deve ser muito “errada” para merecer uma palmada de quem passa os dias e horas dizendo que a ama.  A palmada é uma mensagem que confunde a criança que ainda não tem capacidade de entender e acomodar contradições.
    • Bater faz a criança temer o mais forte ou  mais poderoso, podendo se refletir, na vida adulta em uma postura de aceitação e submissão de abusos (verbais, profissionais etc.).
    • Bater nas mãos inibe a criatividade, curiosidade e destreza das crianças. As mãos são ferramentas de exploração, uma extensão da curiosidade infantil e um “tapinha” nestas pode mandar uma mensagem muito negativa. Melhor separar o objeto “proibido” das mãos da criança do que dar um “tapinha”.
    • Bater pode levar ao abuso. Uma vez transposto o limite entre o não bater e bater, fica mais difícil o controle em um eventual acesso de raiva dos pais. O descontrole é algo que pode acontecer por segundos, mas o abuso que se pode cometer nesse curto espaço de tempo pode ser enorme.
    Se nenhum desses argumentos for suficiente para demonstrar porque não se deve bater em uma criança, deixo um argumento final, que considero definitivo:
    • Bater não funciona! Tanto a experiência de vários pais (não sei o que esse menino tem, quanto mais eu bato, pior ele fica!) quanto estudos acadêmicos, demonstram que bater não mofidifica comportamentos indesejáveis. Talvez seja o oposto porque, ao gerar raiva na criança que recebe um tapa, esta passa a confrontar mais e, quanto mais confronta, mais apanha e um ciclo vicioso negativo se instala. Bater, nem que seja “só um tapinha”, não funciona para a criança, seus pais e nossa sociedade.
    Lembrem-se que os jovens e adultos de hoje são as crianças de ontem, que tiveram essa educação na base de palmadas, gritos e castigos. Algum resultado positivo nisso? Não bater, não significa ser permissivo, pois há outras formas de ensinar limites. Ao contrário, quem bate, só demonstra descontrole e falta de limites de si mesmo. Você prefere que seu filho te respeite ou que tenha medo?Sim, porque é só analisar um pouquinho. Uma criança que apanha após um comportamento negativo, ela aprende e deixa de tal comportamento ou continua o repetindo nos dias subsequentes? Pode deixar de imediato por medo, mas logo estará fazendo novamente. Sendo assim, o que a palmada lhe ensinou?

    Em resumo: "Quem aqui já ouviu alguém dizer, na idade adulta, que é inseguro, triste, melancólico ou revoltado porque a mãe ou o pai estiveram sempre presentes, porque foram empáticos com ele e entenderam suas solicitações, porque estiveram disponíveis e não foram violentos?
    Alguém?
    Eu nunca.
    Os principais problemas da juventude vem do excesso de amor ou da falta?
    Da presença ou da ausência?
    Do amparo ou da violência?
    Da compreensão ou de se deixar chorar sem consolo?
    Achar que uma criança ficará mal acostumada porque mama na mãe até mais de 2 anos, porque dorme próximo dos pais, porque não foi cedo à escola, significa dizer que fazer exatamente o oposto é criar pessoas bem acostumadas.
    Desculpe-me, mas as evidências estão TODAS contra essas crenças."

    Por fim, não me venham com frases do tipo "eu fui criado assim e não morri", " eu fiz isso e meus filhos sobreviveram". O foco aqui não é criar "sobreviventes", pois sobreviver significa escapar, viver a despeito de um problema ou alguma coisa. Sobreviver não é o objetivo mas sim VIVER, plenamente.


    Se você cria seu filho com apego e quer estudar mais sobre o assunto ou se não cria e pretende saber mais sobre, segue algumas dicas de livros:












    Referências: Compilados de textos retirados do Grupo Virtual de Amamentação, http://paizinhovirgula.com/criacao-com-apego-birra-manha-e-afins/
    http://www.cientistaqueviroumae.com.br/2012/08/criacao-com-apego-verdades-mentiras.html
    http://robertocooper.com/2013/09/14/uma-palmada-faz-mal/

    quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

    Hiper, Super? Não... Apenas mega feliz!



    Por Luzinete Carvalho (Psicanalista)

    Nossas crianças tem vivido tempos difíceis...

    Praticamente impedidas de ser simplesmente crianças, tudo em seu comportamento precisa ser nomeado, precisa ser rotulado, e quando os adultos ao redor não conseguem lidar com as circunstâncias, por incapacidade deles, acabam determinando que a criança sofre de alguma síndrome ou transtorno, procuram logo uma medicação qualquer para resolver a questão.

    De florais a psicotrópicos, muitas vezes nem é feita um investigação séria antes do diagnóstico e da prescrição do medicamento.

    Parece-me que, as vezes, é mais simples para os pais se auto denominarem pais de uma criança doente do que se esforçarem para aprender a lidar de verdade com a infância.

    Mais fácil encontrar uma sigla, uma doença, do que ter o trabalho de rever alguns hábitos, rever algumas escolhas para permitir que a criança viva em um ambiente adequado para sua energia infantil saudável e feliz.

    Mudar a alimentação da criança pode trazer grandes resultados, mas as pessoas acham tão difícil levar uma vida com menos açúcar, menos corantes, menos conservantes, ou seja: menos industrializados.

    Uma escola mais flexível, com menos padronizações, que olhe menos para o vestibular que acontecerá daqui 15 anos e olhe mais para o tanque de areia onde a vida acontece AGORA, pode ser a diferença entre ter um filho rotulado como TDAH, "atrasado", "desobediente" e um filho absolutamente feliz, vivendo a infância como ela deve ser vivida.

    As crianças tem sua infância roubada ou podada de diversas formas, tendo cada hora de seus dias ocupada por atividades, tarefas, obrigações, sobrando pouco ou nenhum espaço para o ócio tão necessário a infância.

    Rotuladas entre dois extremos, as crianças pagam o alto preço de estarem cercadas por adultos sem tempo, ansiosos, angustiados, preocupados e incapazes de lidar com elas.

    Hoje em dia criança não é mais apenas criança, quase toda criança carrega um pesado rótulo, entre "tímida" e "brava" dezenas de adjetivos, aparentemente inofensivos, determinam, desde os primeiros anos, aquilo que a criança vai ser obrigada a pensar sobre si mesma a vida inteira.

    Entre hiperativa e superdotada, o que vejo, é essas siglas "hiper" e "super" servirem para descrever comportamentos absolutamente normais e comuns, que não indicam nem que a criança tem algum transtorno que a torna atrasada, e nem que é um mini gênio incompreendido.

    Essas siglas podem apenas indicar que a criança, assim rotulada, tem como maior problema estar rodeada de pessoas despreparadas ou sem tempo para lidar com a infância pura e comum...

    Vamos deixar de lado os rótulos, e vamos nos dar ao trabalho de olhar mais atentamente para as condições que estamos dando as crianças, olhar mais atentamente para o contexto em que as inserimos, olhar mais atentamente para as escolhas que fazemos por elas, e principalmente: vamos olhar mais para nós mesmos.

    Olhando para nós mesmos talvez possamos responder sinceramente se estamos sabendo lidar com nossas crianças, ou as estamos rotulando, e com isso não percebemos que não importa se elas são "hiper" ou "super" alguma coisa, e sim, que o mais importante é que elas sejam "mega" felizes.

    Luzinete R. C. Carvalho ( Psicanalista )