quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Hiper, Super? Não... Apenas mega feliz!



Por Luzinete Carvalho (Psicanalista)

Nossas crianças tem vivido tempos difíceis...

Praticamente impedidas de ser simplesmente crianças, tudo em seu comportamento precisa ser nomeado, precisa ser rotulado, e quando os adultos ao redor não conseguem lidar com as circunstâncias, por incapacidade deles, acabam determinando que a criança sofre de alguma síndrome ou transtorno, procuram logo uma medicação qualquer para resolver a questão.

De florais a psicotrópicos, muitas vezes nem é feita um investigação séria antes do diagnóstico e da prescrição do medicamento.

Parece-me que, as vezes, é mais simples para os pais se auto denominarem pais de uma criança doente do que se esforçarem para aprender a lidar de verdade com a infância.

Mais fácil encontrar uma sigla, uma doença, do que ter o trabalho de rever alguns hábitos, rever algumas escolhas para permitir que a criança viva em um ambiente adequado para sua energia infantil saudável e feliz.

Mudar a alimentação da criança pode trazer grandes resultados, mas as pessoas acham tão difícil levar uma vida com menos açúcar, menos corantes, menos conservantes, ou seja: menos industrializados.

Uma escola mais flexível, com menos padronizações, que olhe menos para o vestibular que acontecerá daqui 15 anos e olhe mais para o tanque de areia onde a vida acontece AGORA, pode ser a diferença entre ter um filho rotulado como TDAH, "atrasado", "desobediente" e um filho absolutamente feliz, vivendo a infância como ela deve ser vivida.

As crianças tem sua infância roubada ou podada de diversas formas, tendo cada hora de seus dias ocupada por atividades, tarefas, obrigações, sobrando pouco ou nenhum espaço para o ócio tão necessário a infância.

Rotuladas entre dois extremos, as crianças pagam o alto preço de estarem cercadas por adultos sem tempo, ansiosos, angustiados, preocupados e incapazes de lidar com elas.

Hoje em dia criança não é mais apenas criança, quase toda criança carrega um pesado rótulo, entre "tímida" e "brava" dezenas de adjetivos, aparentemente inofensivos, determinam, desde os primeiros anos, aquilo que a criança vai ser obrigada a pensar sobre si mesma a vida inteira.

Entre hiperativa e superdotada, o que vejo, é essas siglas "hiper" e "super" servirem para descrever comportamentos absolutamente normais e comuns, que não indicam nem que a criança tem algum transtorno que a torna atrasada, e nem que é um mini gênio incompreendido.

Essas siglas podem apenas indicar que a criança, assim rotulada, tem como maior problema estar rodeada de pessoas despreparadas ou sem tempo para lidar com a infância pura e comum...

Vamos deixar de lado os rótulos, e vamos nos dar ao trabalho de olhar mais atentamente para as condições que estamos dando as crianças, olhar mais atentamente para o contexto em que as inserimos, olhar mais atentamente para as escolhas que fazemos por elas, e principalmente: vamos olhar mais para nós mesmos.

Olhando para nós mesmos talvez possamos responder sinceramente se estamos sabendo lidar com nossas crianças, ou as estamos rotulando, e com isso não percebemos que não importa se elas são "hiper" ou "super" alguma coisa, e sim, que o mais importante é que elas sejam "mega" felizes.

Luzinete R. C. Carvalho ( Psicanalista )

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