quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Olha esse vento nas costas menino!

Por Dráuzio Varella, médico e escritor. Texto publicado em seu site.

Cuidado com a friagem, meu filho! Minha avó falava assim. A sua, provavelmente, também. Acho que todas as avós do mundo tiveram essa preocupação com os netos. Acostumados a considerar sábios os conselhos que chegaram até nós pela tradição familiar, também insistimos com nossos descendentes para que se protejam da friagem e dos golpes de vento, sem nos darmos conta de que fica estranho repetirmos tal recomendação ingênua em pleno século 21.
Se friagem fizesse mal, a seleção natural certamente nos teria privado da companhia de suecos, noruegueses, canadenses, esquimós e de outros povos que enfrentam a tristeza diária de viver em lugares gelados.
A crendice de que o frio e o vento provocam doenças do aparelho respiratório talvez seja fácil de explicar. Sem ideia de que existiam vírus, fungos ou bactérias, nossos antepassados achavam lógico atribuir as gripes e resfriados, que incidiam com maior frequência no inverno, à exposição do corpo às temperaturas mais baixas.
É possível que a conclusão tenha sido reforçada pela observação de que algumas pessoas espirram e têm coriza quando expostas repentinamente às baixas temperaturas, sintomas de hipersensibilidade (alergia) ao frio, que nossos bisavós deviam confundir com os do resfriado comum.
Confiantes na perspicácia de suas observações, as gerações que nos precederam transmitiram a crença de que friagem e golpes de ar provocam doenças respiratórias, restringindo a liberdade e infernizando a vida de crianças, adolescentes e até dos adultos:
– Não beba gelado, filhinho! Não apanhe sereno! Não saia nesse frio, minha querida, vai pegar um resfriado! Agasalhe essa criança; ela pode ficar gripada. Feche a janela, olhe esse vento nas costas! Descalço no chão frio? Vá já calçar o chinelo!
Crescemos obedientes a essas ordens. Quanto calor devemos ter sofrido no colo de nossas mães enrolados em xales de lã em pleno verão? Quantos guaranás mornos fomos obrigados a tomar nos aniversários infantis? Para sair nas noites frias, quantas camadas de roupa tivemos de suportar? Quantas vezes interromperam nossas brincadeiras porque começava a cair sereno?
A partir dos anos 1950, foram realizadas diversas pesquisas para avaliar a influência da temperatura na incidência de gripes, resfriados e outras infecções das vias aéreas.
Nesses estudos, geralmente realizados nos meses de inverno rigoroso, os voluntários foram divididos em dois grupos: no primeiro, os participantes passavam o tempo resguardados em ambientes com calefação, sem se exporem à neve ou à chuva. No segundo grupo, os participantes eram expostos à chuva, à neve e aos ventos cortantes.
Nenhum desses trabalhos jamais demonstrou que a exposição às intempéries aumentasse a incidência de infecções respiratórias. Ao contrário, diversos pesquisadores encontraram maior frequmicróência de gripes e resfriados entre os que eram mantidos em ambientes fechados.
Numa cidadezinha do interior da Holanda, na segunda metade do século XVII, um dono de armarinho chamado Antoni Leeuwenhoek, que tinha como distração estudar lentes de aumento, montou um aparelho que aumentava o tamanho dos objetos. Por uma curiosidade particular, dessas que costumam mudar os rumos da ciência, Leeuwenhoek, em vez de usar seu microscópio rudimentar para ampliar coisas pequenas, como patas de mosquitos, olhos de mosca ou buracos de cortiça, conforme faziam os ingleses naquela época, procurou as invisíveis. Examinou uma gota de chuva, a própria saliva, uma gota de seu esperma e ficou estarrecido com o que seus olhos viram.
Relatou assim suas descobertas: “No ano de 1675, em meados de setembro (…) descobri pequenas criaturas na água da chuva que permaneceu apenas alguns dias numa tina nova pintada de azul por dentro (…) esses pequenos animais, a meu ver, eram 10 mil vezes menores do que a pulga-d’água, que se pode ver a olho nu”.
Mais de 300 anos depois da descoberta dos micróbios, ainda continuamos a atribuir à pobre friagem a causa de nossas desventuras respiratórias. Convenhamos, não fica bem! Esquecemos que resfriados e gripes são doenças causadas por vírus e que sem eles é impossível adquiri-las. Aceitamos passivamente que o sereno faz mal quando cai em nossas cabeças e que o vento em nossas costas nos deixa doentes, sem pensarmos um minuto na lógica de tais afirmações. Qual o problema se algumas gotas de sereno se condensarem em nosso cabelo? E o vento? Por que só quando bate nas costas faz mal? Na frente não?
Gripes, resfriados e outras infecções respiratórias são doenças infecciosas provocadas por agentes microbianos que têm predileção pelo epitélio do aparelho respiratório. Quando eles se multiplicam em nossas mucosas, o nariz escorre, tossimos, temos falta de ar e chiado no peito. A presença do agente etiológico é essencial; sem ele podemos sair ao relento na noite mais fria, chupar gelo o dia inteiro ou apanhar um ciclone nas costas sem camisa, que não acontecerá nada, além de sentirmos frio.
A maior incidência de infecções respiratórias nos meses de inverno é explicada simplesmente pela tendência à aglomeração em lugares com janelas e portas fechadas para proteger do frio. Nesses ambientes mal ventilados, a proximidade das pessoas facilita a transmissão de vírus e bactérias de uma para outra.
A influência do ar condicionado na incidência de doenças respiratórias, entretanto, não segue a lógica anterior. A exposição a ele realmente favorece o aparecimento de infecções respiratórias agudas, mas não pelo fato de baixar a temperatura do ambiente (o ar quente exerce o mesmo efeito deletério), e sim porque o ar condicionado desidrata o ar e resseca o muco protetor que reveste as mucosas das vias aéreas. O ressecamento da superfície do epitélio respiratório destrói anticorpos e enzimas que atacam germes invasores, predispondo-nos às infecções.
http://drauziovarella.com.br/drauzio/olhe-esse-vento-nas-costas-menino/

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Desmistificando a criação com apego



Hoje em dia, um assunto tem tomado cada vez mais espaço nas discussões sobre maternidade, é a chamada "criação com apego". Mas o que vem a ser a criação com apego? O termo origina-se da expressão em inglês "attachment parenting" e nada mais é do que seguir seus próprios instintos. Toda criança já nasce com a necessidade de estarem perto dos seus pais e virce-versa. Mas devido à cultura, esse instinto acaba ficando de lado, sendo o mais comum "educar" a criança, desde cedo, para adquirir independência.

Ao se falar em criação com apego, por puro desconhecimento e preconceito, muitas pessoas repelem essa idéia pensando se tratar apenas de crianças grudadas aos pais. O que muita gente não sabe, é que a criança inserida nesse modelo de criação, ou seja, criada com carinho, dignidade, respeito às suas necessidades, inclusive emocionais, tendem por sí próprias buscar sua independência. Vejamos alguns mitos:


"Deixa chorar, pra não ficar mal acostumado"

Você gosta de ter seu choro, suas reclamações e frustrações ignoradas? E por que a criança, mais sensível, vulnerável, que não tem pleno conhecimento das coisas, precisa "aprender" a chorar sozinha para não ficar mal acostumada? Pois bem, os estudos demonstraram que quando a criança cumpre um ano, as mães que tinham atendido rapidamente o seu choro tinham filhos que choravam muito menos que aquelas que haviam optado por deixar chorar. Apesar que alguns pensam que as crianças se apegam porque foram muito mimadas e queridas, “mal acostumados” por excesso de atenção, não há provas que corroborem a teoria segundo a qual o apego ansioso é resultado do afeto e atenção excessivas por parte dos pais.
Crianças tornam-se mal acostumadas, quando têm suas necessidades físicas e psicológicas ignoradas e substituídas por presentes. Dê presença!


card by: Thiago Queiroz

"As crianças têm que acostumar a dormirem sozinhas desde cedo"


Crianças que dormem em cama/quarto compartilhado tendem a ser – veja só – MENOS medrosas e MAIS independentes do que aquelas que dormem sozinhas. Por alguma razão, as pessoas começaram a acreditar que os bebês precisavam ser mais independentes, e que aprender a dormir sozinhos desde o primeiro dia de nascidos seria uma forma de fazer isso. Primeiramente, é uma besteira enorme dizer que os bebêsprecisam ser independentes – eles não podem ser, afinal, são bebês! Eles sequer sabem que existem até completarem um aninho de vida ou mais, então como podem ser independentes antes disso?  Contudo, conforme as crianças crescem, elas se tornam (felizmente) mais independentes, e nessa fase são as crianças que dormiram com os pais (ou continuam dormindo) e receberam toneladas de carinho e contato corporal que se mostram as mais destemidas, enquanto as que foram deixadas sozinhas para serem "independentes" enquanto bebês tendem a ser mais tímidas, ansiosas e amedrontadas. 
Estudos recentes comprovam os malefícios do treinamento precoce do sono. Leia mais aqui: Provados os malefícios do treinamento precoce do sono


"Depois dos 6 meses, 1 ano, 2 anos, o leite vira água"

Puro mito! Ele nunca vira água, nem depois dos 2, 3, 4 anos ou mais. Continua rico em nutrientes e valendo por uma refeição, como segue no quadro abaixo: 
Além do mais, uma descoberta recente mostra que o leite materno pode, inclusive, bloquear o vírus HIV.
Mais um quadro que ilustra a quantidade de nutrientes no 2° ano de vida:



"Não pode fazer isso porque eu disse que não"


Você aprende algo dessa forma? Com um simples não, sem explicação qualquer, só por autoritarismo? Evitar o não e escolher a criação com apego não é ser permissivo, ao contrário, é praticar a empatia, se colocar no lugar da criança e procurar a melhor forma de fazê-la entender. Ao invés de usar um "não", puro e seco, procure explicar, com base no diálogo, carinho e respeito. Aqui segue algumas dicas do papai Thiago Queiroz em seu blog:






  • evite o “não” pelo “não”. Ouvir um “não” assim, puro, sem mais nem menos não ajuda em nada, não explica e não ameniza a frustração do bebê;
  • torne a casa segura para o bebê. Proteja tomadas, quinas, guarde o que pode quebrar e você não precisará ficar correndo atrás do seu bebê para protegê-lo;
  • distração e alternativa. Quando o seu bebê está brincando com algo que não deveria, converse com ele (mesmo que ele não entenda nada) e ofereça uma alternativa, que pode ser outro brinquedo ou atividade;
  • escolha as suas batalhas. Sempre que o bebê estiver fazendo algo que você não quer deixar, se pergunte: “será que ele realmente não pode mexer nisso, ou sou só eu que não quero?”. Às vezes, é melhor para o bebê e para a mãe que você deixe ele satisfazer uma curiosidade, se isso não envolver riscos à segurança dele.



  • "Dormir junto com os filhos prejudica a vida sexual do casal?"

    Cuma? Se um casal, depois que tiveram os filhos, não faz mais sexo, a culpa não é da cama compartilhada. Aliás, pra um casal bem resolvido sexualmente, a cama é apenas mais um acessório na vida afetiva no casal. Sim, existem outros lugares e cômodos da casa que o casal possa usar e abusar, basta usar a criatividade.





    "Só uma palmada pra educar não faz mal"

    Uma palmada faz mal sim! Estudos demonstram que a palmada destrói o desenvolvimento e diminui o QI nas crianças, leia mais aqui: http://maeinusa.blogspot.com.br/2013/10/como-punicao-fisica-pode-prejudicar-o.html. Punição não tem nada a ver com educação.  Enquanto a punição advém da raiva, descontrole e despreparo do cuidador; a consequência implica em paciência, empatia, autocontrole e raciocínio lógico do adulto no sentido de mostrar à criança que ela é responsável pelos seus atos. A criança responde e aprende muito melhor em um contexto de Disciplina Positiva! 

    Segue alguns argumentos pelos quais a palmada não funciona:

    • Bater ensina a bater. Uma criança que recebe uma palmada, entende que bater é algo permitido ou possível. Mais, que alguém maior pode bater em alguém menor. Assim, um irmão  maior pode se sentir “autorizado” a bater em um menor ou na escola usar violência contra uma criança menor.
    • Bater ensina que esse é um bom método de se resolver problemas e que a agressão física é uma atitude normal e que a força bruta é mais importante que o diálogo.
    • Bater mina a auto estima da criança porque esta sente que deve ser muito “errada” para merecer uma palmada de quem passa os dias e horas dizendo que a ama.  A palmada é uma mensagem que confunde a criança que ainda não tem capacidade de entender e acomodar contradições.
    • Bater faz a criança temer o mais forte ou  mais poderoso, podendo se refletir, na vida adulta em uma postura de aceitação e submissão de abusos (verbais, profissionais etc.).
    • Bater nas mãos inibe a criatividade, curiosidade e destreza das crianças. As mãos são ferramentas de exploração, uma extensão da curiosidade infantil e um “tapinha” nestas pode mandar uma mensagem muito negativa. Melhor separar o objeto “proibido” das mãos da criança do que dar um “tapinha”.
    • Bater pode levar ao abuso. Uma vez transposto o limite entre o não bater e bater, fica mais difícil o controle em um eventual acesso de raiva dos pais. O descontrole é algo que pode acontecer por segundos, mas o abuso que se pode cometer nesse curto espaço de tempo pode ser enorme.
    Se nenhum desses argumentos for suficiente para demonstrar porque não se deve bater em uma criança, deixo um argumento final, que considero definitivo:
    • Bater não funciona! Tanto a experiência de vários pais (não sei o que esse menino tem, quanto mais eu bato, pior ele fica!) quanto estudos acadêmicos, demonstram que bater não mofidifica comportamentos indesejáveis. Talvez seja o oposto porque, ao gerar raiva na criança que recebe um tapa, esta passa a confrontar mais e, quanto mais confronta, mais apanha e um ciclo vicioso negativo se instala. Bater, nem que seja “só um tapinha”, não funciona para a criança, seus pais e nossa sociedade.
    Lembrem-se que os jovens e adultos de hoje são as crianças de ontem, que tiveram essa educação na base de palmadas, gritos e castigos. Algum resultado positivo nisso? Não bater, não significa ser permissivo, pois há outras formas de ensinar limites. Ao contrário, quem bate, só demonstra descontrole e falta de limites de si mesmo. Você prefere que seu filho te respeite ou que tenha medo?Sim, porque é só analisar um pouquinho. Uma criança que apanha após um comportamento negativo, ela aprende e deixa de tal comportamento ou continua o repetindo nos dias subsequentes? Pode deixar de imediato por medo, mas logo estará fazendo novamente. Sendo assim, o que a palmada lhe ensinou?

    Em resumo: "Quem aqui já ouviu alguém dizer, na idade adulta, que é inseguro, triste, melancólico ou revoltado porque a mãe ou o pai estiveram sempre presentes, porque foram empáticos com ele e entenderam suas solicitações, porque estiveram disponíveis e não foram violentos?
    Alguém?
    Eu nunca.
    Os principais problemas da juventude vem do excesso de amor ou da falta?
    Da presença ou da ausência?
    Do amparo ou da violência?
    Da compreensão ou de se deixar chorar sem consolo?
    Achar que uma criança ficará mal acostumada porque mama na mãe até mais de 2 anos, porque dorme próximo dos pais, porque não foi cedo à escola, significa dizer que fazer exatamente o oposto é criar pessoas bem acostumadas.
    Desculpe-me, mas as evidências estão TODAS contra essas crenças."

    Por fim, não me venham com frases do tipo "eu fui criado assim e não morri", " eu fiz isso e meus filhos sobreviveram". O foco aqui não é criar "sobreviventes", pois sobreviver significa escapar, viver a despeito de um problema ou alguma coisa. Sobreviver não é o objetivo mas sim VIVER, plenamente.


    Se você cria seu filho com apego e quer estudar mais sobre o assunto ou se não cria e pretende saber mais sobre, segue algumas dicas de livros:












    Referências: Compilados de textos retirados do Grupo Virtual de Amamentação, http://paizinhovirgula.com/criacao-com-apego-birra-manha-e-afins/
    http://www.cientistaqueviroumae.com.br/2012/08/criacao-com-apego-verdades-mentiras.html
    http://robertocooper.com/2013/09/14/uma-palmada-faz-mal/

    quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

    Hiper, Super? Não... Apenas mega feliz!



    Por Luzinete Carvalho (Psicanalista)

    Nossas crianças tem vivido tempos difíceis...

    Praticamente impedidas de ser simplesmente crianças, tudo em seu comportamento precisa ser nomeado, precisa ser rotulado, e quando os adultos ao redor não conseguem lidar com as circunstâncias, por incapacidade deles, acabam determinando que a criança sofre de alguma síndrome ou transtorno, procuram logo uma medicação qualquer para resolver a questão.

    De florais a psicotrópicos, muitas vezes nem é feita um investigação séria antes do diagnóstico e da prescrição do medicamento.

    Parece-me que, as vezes, é mais simples para os pais se auto denominarem pais de uma criança doente do que se esforçarem para aprender a lidar de verdade com a infância.

    Mais fácil encontrar uma sigla, uma doença, do que ter o trabalho de rever alguns hábitos, rever algumas escolhas para permitir que a criança viva em um ambiente adequado para sua energia infantil saudável e feliz.

    Mudar a alimentação da criança pode trazer grandes resultados, mas as pessoas acham tão difícil levar uma vida com menos açúcar, menos corantes, menos conservantes, ou seja: menos industrializados.

    Uma escola mais flexível, com menos padronizações, que olhe menos para o vestibular que acontecerá daqui 15 anos e olhe mais para o tanque de areia onde a vida acontece AGORA, pode ser a diferença entre ter um filho rotulado como TDAH, "atrasado", "desobediente" e um filho absolutamente feliz, vivendo a infância como ela deve ser vivida.

    As crianças tem sua infância roubada ou podada de diversas formas, tendo cada hora de seus dias ocupada por atividades, tarefas, obrigações, sobrando pouco ou nenhum espaço para o ócio tão necessário a infância.

    Rotuladas entre dois extremos, as crianças pagam o alto preço de estarem cercadas por adultos sem tempo, ansiosos, angustiados, preocupados e incapazes de lidar com elas.

    Hoje em dia criança não é mais apenas criança, quase toda criança carrega um pesado rótulo, entre "tímida" e "brava" dezenas de adjetivos, aparentemente inofensivos, determinam, desde os primeiros anos, aquilo que a criança vai ser obrigada a pensar sobre si mesma a vida inteira.

    Entre hiperativa e superdotada, o que vejo, é essas siglas "hiper" e "super" servirem para descrever comportamentos absolutamente normais e comuns, que não indicam nem que a criança tem algum transtorno que a torna atrasada, e nem que é um mini gênio incompreendido.

    Essas siglas podem apenas indicar que a criança, assim rotulada, tem como maior problema estar rodeada de pessoas despreparadas ou sem tempo para lidar com a infância pura e comum...

    Vamos deixar de lado os rótulos, e vamos nos dar ao trabalho de olhar mais atentamente para as condições que estamos dando as crianças, olhar mais atentamente para o contexto em que as inserimos, olhar mais atentamente para as escolhas que fazemos por elas, e principalmente: vamos olhar mais para nós mesmos.

    Olhando para nós mesmos talvez possamos responder sinceramente se estamos sabendo lidar com nossas crianças, ou as estamos rotulando, e com isso não percebemos que não importa se elas são "hiper" ou "super" alguma coisa, e sim, que o mais importante é que elas sejam "mega" felizes.

    Luzinete R. C. Carvalho ( Psicanalista )

    segunda-feira, 18 de novembro de 2013

    Leite materno pode bloquear HIV


    Estão vendo essa gravura acima? Pois é, mesmo no 2° ano de vida, o leite materno continua rico em nutrientes e valendo por uma refeição completa. Ao contrário do que muitos pensam, ele não vira água, nem depois dos 2 anos. Agora pra se tornar um alimento ainda mais completo e poderoso, Um grupo de pesquisadores da Universidade de Duke e do Programa de Suporte à Lactação do Children’s Hospital de Boston (Universidade de Harvard) relataram as características de uma proteína presente no leite materno que é capaz de neutralizar o vírus HIV-1, chamada de Tenascin-C (TNC).
    O artigo [1] publicado em outubro deste ano no periódico PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences), com a edição de Robert C. Gallo (um dos pesquisadores que descobriram o HIV e sua relação com a AIDS, na década de 80).
    Na publicação, os cientistas descrevem como isolaram o componente ativo, suas características químicas e sua atividade em bloquear o vírus HIV-1, impedindo a infecçãoin vitro de diferentes variantes virais.
                            A descoberta vem complementar o conhecimento médico sobre o assunto, já que se buscavam mecanismos de bloqueio da infecção do HIV no leite materno, uma vez que evidências apontavam que até 90% dos lactentes de mães soropositivas não adquiriam o vírus, mesmo sendo amamentados normalmente [2]. Relatos anteriores [3 e 4] já haviam mostrado que fatores presentes no leite materno inibia a ligação do HIV a receptores CD4. Porém no trabalho mais recente foi caracterizada com precisão a proteína em questão, através de combinação de métodos de biologia molecular e engenharia genética (foi utilizada técnica combinada de cromatografia líquida e espectrometria de massa juntamente com bases de dados do proteinoma humano).
                O estudo apontou como o TNC “captura” o vírus ao se ligar a proteínas do envelope viral, diminuindo assim a ligação ao receptor CD4 dos linfócitos humanos num ambiente que há poucas células com tal característica: a mucosa do lactente. Logo, a contribuição direta do estudo se dá neste contexto de transmissão do vírus, sendo que a aplicação no tratamento ou transmissão por outras vias ainda não é clara.
                Os autores apontam a possibilidade do uso Tenascin-C como complemento à lactação de filhos de mães soropositivas. Uma vez que se trata de um componente natural do leite materno não haveria grandes riscos associados à introdução de moléculas exógenas no organismo do lactente.
    No futuro, essa estratégia poderia diminuir as chances de tais bebês adquirirem o vírus e permitir que recebam o leite materno com todos seus benefícios.

    Traduzido e editado por Rodrigo Santos, aluno de graduação da Faculdade de Medicina da UFRJ 
    Bibliografia:
     1.Tenascin-C is an innate broad-spectrum, HIV-1-neutralizing protein in breast milk.
    PNAS, 2013. Fouda GG et al. Duke University, USA.
     2.Late Postnatal Transmission of HIV-1 in Breast-Fed Children: An Individual Patient Data Meta-Analysis. The Journal of Infectious Diseases, 2004. The Brestfeeding and HIV International Transmission Study Group.
     3.A Human Milk Factor Inhibits Binding of Human Immunodeficiency Virus to the CD4 Receptor.Pediatric Research, 1992. Newburg DS et al. Harvard Medical School & Johns Hopkins School of Medicine, USA.
     4.Human Milk Glycosaminoglycans Inhibit HIV Glycoprotein gp120 Binding to Its Host Cell CD4 Receptor. Journal of Nutrition, 1994. Newburg DS et al. Harvard Medical School, University of Iowa & Johns Hopkins School of Medicine, USA.

    sexta-feira, 8 de novembro de 2013

    ABC do Parto

    Série informativa da página "Memezinho da mamãe" no facebook: 


    Fonte: Página do facebook "memezinho da mamãe"

    quinta-feira, 7 de novembro de 2013

    Como lidar com conselhos não solicitados

    Socorro! Estou tão frustrada com esse mundo de conselhos que recebo da minha sogra e irmão! Não importa o que eu faça, estou fazendo errado. Eu os amo muito, mas como eu posso pedi-los para parar de despejar tantos conselhos que eu não pedi??

    Da mesma forma que seu bebê é uma parte importante de sua vida, ele é também importante para os outros. Pessoas que se importam com seu bebê estão ligados a você e ao seu bebê de uma maneira especial que os convidam a aconselhar.
    É importante saber disso, você vai ter razões de lidar com essa interferência de modo gentil, que não machucaria os sentimentos de ninguém. Independente do conselho, é o seu bebê, e no fim, você vai educar seu filho da maneira que você acha que é a melhor. Então, raramente vale a pena criar uma guerra com uma pessoa que no fundo tem boas intenções. Você pode responder aos conselhos que você não pediu de várias maneiras:


    Escute primeiro 
    É natural ser defensivo se você acha que alguém esta te julgando; mas provavelmente você não está sendo criticada, mas sim, a outra pessoa esta compartilhando contigo o que ela acha ser uma percepção valiosa. Tente ouvir – você pode sem querer talvez aprender alguma coisa valiosa. Seja indiferente Se você acha que não existe a mínima chance de convencer a outra pessoa a mudar de opinião, simplesmente sorria, balance a cabeça positivamente, e faca um comentário do tipo: “Interessante!” Então continue fazendo do seu jeito.

    Concorde
    Você pode achar uma parte do conselho que você concorde. Se isso for possível, cuide de concordar de todo coração com aquele tópico.

    Escolha suas batalhas

    Se sua sogra insiste em que seu bebe vista um chapéu na sua caminhada ao parque, vá em frente e ponha aquela chapéu na cabeça dele. Isso não vai prejudicar seu bebê e vai apaziguar a situação. Entretanto, não se renda quando o assunto é importante para você e quanto à saúde ou bem-estar da criança esta em jogo.

    Evite tocar no assunto
    Se seu irmão esta te pressionando a deixar seu bebê chorar para dormir, mas você nunca faria isso, então não reclame para ele sobre seu bebê acordando cinco vezes a noite passada. Se ele tocar no assunto, então uma distração pode funcionar, como “Você gostaria de um cafezinho?”

    Se instrua
    Conhecimento é poder! Proteja a si mesmo e seu equilíbrio mental lendo e aprendendo tudo sobre o modo que você decidiu educar seu filho. Confie em si mesmo que você está fazendo o melhor para você e seu filho.

    Instrua a outra pessoa
    Se seu “professor” está transmitindo informações que você sabe que são ultrapassadas ou erradas, compartilhe com ele o que você aprendeu sobre o assunto. Você talvez poderá esclarecer muitas informações e abrir a mente da outra pessoa. Refira-se a um estudo, livro, ou artigo que você tenha lido.

    Cite um médico
    Muitas pessoas aceitam o ponto de vista se um profissional da saúde validou isso. Se seu próprio pediatra concorda com sua posição, fale, “Meu medico falou para esperar até que ele tenha 6 meses para introduzir comidas sólidas.” Se seu próprio medico não suporta seu ponto de vista, então refira-se a outro medico, talvez o autor de algum livro sobre cuidado de bebês.

    Seja vago
    Você pode evitar um confronto com respostas evasivas. Por exemplo, se sua irmã pergunta se você já começou o desfralde (mas você nem está pensando nisso no momento), você pode responder assim, “Nós estamos indo para essa direção.”

    Peça conselho!
    O seu palpiteiro amigável é possivelmente um especialista em alguns assuntos que você concorda com ele. Tente achar esse pontos e convide-o para dar-lhe conselhos. Ele vai ficar tão feliz de estar te ajudando, e você vai ficar feliz em ter um modo de evitar discussões sobre os assuntos que vocês não concordam.

    Decore uma resposta padrão
    Aqui um comentário que pode ser dito em resposta a quase todos os tipos de conselhos: “Esse é não talvez é o jeito certo para vocês, mas é o jeito certo para mim.”

    Seja honesto
    Tente ser honesto sobre seus sentimentos. Separe uma hora em que não haverá distrações, e pense cuidadosamente em suas palavras, como “Eu sei o quanto você ama o Pedrinho, e eu estou feliz que você passa tanto tempo com ele. Eu sei que você acha que esta me ajudando quando você me dá conselhos como esses, mas eu estou satisfeito com meu modo próprio de lidar com isso, e eu ficaria realmente feliz se você pudesse entender isso.”

    Encontre um mediador

    Se a situação está colocando em risco sua relação com quem está te dando conselhos, você pode pedir outra pessoa para interferir para você.

    Procure amigos que pensam da mesma forma
    Se associe a um grupo de apoio on-line ou clube com pessoas que tem os mesmos pontos de vista de educação de seus filhos.
    Falar com outros pais que educaram seus bebês do mesmo modo pode te dar uma forca para encarar pessoas que não entendem seus pontos de vista.


    Esse artigo foi extraído do livro “Gentle Baby Care” by Elizabeth Pantley. (McGraw-Hill, 2003).

    Tradução: Andreia Mortensen para o grupo Soluções para noites sem choro no facebook.

    terça-feira, 5 de novembro de 2013

    Cinta pós-parto x Ginástica Hipopressiva


    Usar ou não usar cinta pós-parto, eis a questão. Esse é um tema polêmico que gera muitas divergências. Há quem defenda o uso da cinta dizendo que ajuda a barriga a voltar mais rápido, que ajuda na recuperação e tal mas há quem a recrimine por deixar a musculatura preguiçosa. Vamos entender o que acontece com o nosso organismo então?
    Logo que o bebê nasce, a musculatura do abdômen fica flácida, os órgãos internos estão se reajustando, o útero está voltando ao tamanho normal e parece tentador o uso da cinta para “ajeitar” tudo no lugar. Acontece que a cinta nesse caso acaba atrapalhando, te aperta, fica desajeitada, sente falta de ar, e acaba servindo somente como uma “muleta” pois não trabalha efetivamente a sua musculatura. Uma das opções para o corpo, e o abdômen voltarem ao tamanho normal, é amamentar. Durante a mamada produzimos ocitocina, que por sua vez, é responsável para contração uterina, você vai sentir o útero contraindo enquanto amamenta. A amamentação ainda ajuda na perda de peso.
    A cinta traz também uma vantagem estética para as mulheres preocupadas com sua forma após a gravidez, proporcionando uma redução momentânea do abdômen. Não se deve, contudo, acreditar que a peça ajudará a diminuir a barriga a longo prazo.
    "O mito em relação à cinta é que, usando ela, a barriga vai voltar mais rapidamente ao lugar. Ela tem seu tempo para voltar ao normal, o organismo vai se adaptando à ausência da gravidez, e a barriga some", afirma Marco Capel, da Pro Matre.
    Segundo Corintio Mariani, o uso do acessório pode até atrapalhar esse processo natural. "Ao comprimir os músculos da região abdominal, a cinta impede que eles trabalhem de modo fisiológico para eliminar a flacidez, decorrente da distensão a que foram submetidos durante a gravidez, e assim recuperem o tônus anterior", afirma o obstetra. Para ele, se o objetivo é recuperar a musculatura, é preferível que a mulher faça exercícios abdominais, quando for liberada para atividade física por seu médico.
    Além disso, o uso da cinta de forma exagerada, aumentam as chances de edema abdominal, dor, falta de ar e até trombose.
    Diante disso, há alguns exercícios chamados de "hipopressores" que ajudam com a musculatura dessa área logo após o parto. A ginástica combina uma série de exercícios da musculatura abdominal, pélvica e peitoral, produzindo um movimento dos músculos abdominais conhecido como manobra de aspiração diafragmática, que tem como objetivo puxar órgãos da pelve como a bexiga, o útero e os ovários para cima estimulando a musculatura do assoalho pélvico. Seu objetivo é reduzir a pressão intra-abdominal fortalecendo a musculatura interna do abdômen, além de fortalecer o períneo e reduzir a compressão dos discos invertebrais na região lombar.
    Os resultados obtidos com a prática dos exercícios hipopressivos variam de pessoa para pessoa. Vai de cada um conseguir desenvolver o controle dos músculos e perceber a região. Ao contrário das tradicionais abdominais, a terapia com os exercícios hipopressivos exige essa percepção do corpo e uma concentração semelhante à prática dopilates e da ioga para que possa aliviar a tensão da região. Por isso, algumas pessoas encontram uma maior dificuldade que outras, que conseguem perceber os resultados no corpo logo nas primeiras semanas.



    Como fazer a ginástica:



    1. Expire (solte o ar) e encolha a barriga, como se fosse encostar o umbigo nas costas. 
    2. Contraia todos os músculos abdominais. 
    3. Permaneça nessa posição por alguns segundos. 
    4. Respire normalmente, mas mantenha a barriga para dentro, com os músculos contraídos por mais alguns segundos. 
    5. Depois relaxe por cerca de 30 segundos e faça mais 5 séries de 15 segundos.
    Veja também alguns vídeos que ensinam a técnica: